IPO do Nubank - Vale a pena investir?
IPO do Nubank
O Banco digital que vale mais que o Itaú
A era dos bancos digitais já começou, e nós vemos um novo mercado surgindo no setor financeiro. Por esse preço, vale a pena entrar no IPO do Nubank?
O IPO mais esperado do ano
O Nubank (NYSE: NU, B3: NUBR33), o roxinho mais amado do Brasil, chegou para o seu tão esperado IPO.
A companhia, que dispensa apresentações, vem tirando o sono dos bancões disponibilizando conta corrente sem burocracia, cartão de crédito sem tarifas, programas de recompensas, além de empréstimos e investimentos com a aquisição da Easynvest.
Para quem chegou ao mundo dos investimentos recentemente, IPO é a sigla para Initial Public Offering (Oferta pública inicial), em que basicamente a companhia negocia suas ações em Bolsa.
A companhia possui mais de 48 milhões de clientes, fãs e futuros sócios.
A melhor sacada de marketing, de investimentos, de inclusão social já vista na história do país.
Ser cliente, ser sócio, ser parte, o que mais o Nubank é capaz de fazer?
“Pegar fila e pagar anuidade é tão anos 80”
Em meados de 2012, ninguém imaginaria que com apenas um celular e um documento pessoal seríamos capazes de abrir uma conta corrente.
David Velez experimentou uma das experiências mais terríveis que todos nós já passamos, porta giratória à prova de balas, seguranças, fila, fila e mais fila...
Em 2012, já éramos capazes de salvar arquivos em nuvem (Dropbox, Google Drive), mudar o navegador da internet para Firefox ou Chrome, postar no Instagram (sim! desde 2010), mas ainda precisávamos enfrentar uma fila quilométrica para pagar contas, tínhamos que pagar anuidade no cartão e ligar para um call center para resolver um problema bancário?
Algo de errado não estava certo.
Nubank é audiência e engajamento
Por que o Nubank tem dado tão certo? Simples.
1 - Resolveu uma dor.
2 - Trouxe valor ao negócio com serviços, experiência, atendimento ao cliente, com o altíssimo NPS (nível de satisfação de clientes) de 90.
3 - Trouxe engajamento e audiência – e esse é o maior segredo do Banco.
Durante aproximadamente 3 anos, a companhia foi apenas uma provedora de cartão de crédito.
Ao longo do tempo, os bancos correram atrás da mesma proposta. Credicard, Digio, Trigg… mas nenhuma prosperou como o Nubank.
De forma impressionante, em menos de uma década, a companhia está se aproximando de um dos maiores bancos da América Latina em clientes: o banco Itaú (ITUB3), um banco centenário com 55 milhões de clientes.
O segredo do Nubank? Audiência e engajamento.
Nubank é Anitta
A grande sacada do Nubank foi entender a força das redes sociais.
Segundo uma pesquisa global (Statista), o Brasil é um dos maiores países com influência em redes sociais, com cerca de 43% de usuários que compraram produtos ou consumiram serviços por indicação de influenciadores.
Disputar o negócio de cartões, recompensas e empréstimos atrairia para o Banco um público bastante “nichado”, já que apenas 27% dos brasileiros utilizam cartão de crédito.
Além do Brasil, seu maior foco, Nubank também atua na Colômbia e no México, países que se encontram em índices mais precários de bancarização.
Para atingir os demais 134 milhões de desbancarizados no Brasil, México e Colômbia, a companhia buscou reforços poderosos: Anitta.
A proposta da companhia sempre foi inclusão e participação. Com uma artista de tamanha influência de voz em redes sociais e em países além do Brasil, o Nubank acertou em cheio o que precisava para gerar tração em seus negócios.
Digital é crescimento
A estratégia digital também auxilia na redução de seu custo médio de aquisição de clientes (CAC), um dos mais baixos do mundo, com apenas R$26,75 nos 9 primeiros meses de 2021. Para comparação, o Banco Inter (BIDI11) possui um CAC +7% acima do Nubank.
Outro número surpreendente da companhia, fruto da enorme audiência e altíssimo engajamento, é o LTV/CAC, que basicamente nos diz o retorno que a companhia tem em relação ao custo de aquisição de seu cliente. Atualmente, o LTV/CAC do Nubank é de 30x, o que é extremamente alto.
Com a forte presença em redes sociais, a companhia atinge cerca de 9,6 milhões de seguidores, com 44 milhões de impressões (número de vezes que posts, stories, vídeos ou lives são vistos por uma tela).
A oportunidade de crescimento no meio digital é infinita. Até Warren Buffett, famoso investidor de ações, cedeu aos encantos do roxinho.
Até tu, Buffett?
Buffett investiu 500 milhões de dólares, o que pode parecer muito, mas na realidade representa apenas 0,17% do seu portfólio.
Apesar de um investimento tímido, entendemos que o perfil “tech a preços altos” não seja do feitio do bom velhinho, já os gestores de sua confiança, Ted Weschler e Todd Combs, são disruptivos e investem com total liberdade, o que faz mais sentido em relação ao investimento feito no Nubank.
Independentemente do responsável, a Berkshire Hathaway, holding de Buffett, comprou a participação do Nubank quando a companhia era avaliada em aproximadamente 30 bilhões de dólares.
Com o IPO, a companhia pode atingir patamares de 50 bilhões de dólares, mais valioso que o Itaú Unibanco (avaliado em 40 bilhões de dólares).
Histórico e visibilidade de resultados
Pelos dados do prospecto, temos um histórico de crescimento de +52% da receita líquida de 2018 a 2020.
Basicamente, os ganhos do Nubank são resumidos em: taxas mediante o consumo dos usuários (+30%), juros do cartão de crédito (+23%) e empréstimos (+15%).
O crescimento de +98% da receita líquida dos últimos nove meses da companhia foi impulsionado pelo aumento das receitas de juros nos cartões de crédito, juros de empréstimos e tarifas de intercâmbio – a taxa que a empresa recebe quando algum cliente efetua uma compra no cartão pelo débito ou crédito.
Bancos possuem grandes receitas financeiras provenientes de seus negócios de crédito (empréstimos), abaixo do Ebitda, em "receitas financeiras", por isso não faz sentido avaliar Ebitda para bancos.
(Lembrando que Ebitda = Lajida = Lucro antes dos Juros, Impostos, Depreciação e Amortização = Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization).
Com o aumento de custos e despesas, em especial nas linhas de operação (pessoas), a companhia possui um histórico de prejuízo.
Nubank chegou a divulgar seu primeiro lucro no 1º semestre de 2021, mas trata-se de uma janela muito curta para avaliar um histórico de crescimento de fato.
Com a divulgação do primeiro lucro, a “foto” para o prospecto do IPO ficou bonita, mas o histórico de execução e de resultados da companhia ainda nos mostra uma “foto” feia.
Menos crédito e mais serviços
Até o momento, Nubank atua nos mesmos segmentos que os bancões tradicionais, com forte crescimento nas linhas de crédito.
O Itaú (ITUB3) divulga a rentabilidade separada de seus negócios, e no gráfico abaixo vemos que o ramo de seguros e serviços é o que realmente traz rentabilidade para o negócio, e não o de crédito.
Oferecer serviços (conta corrente, cartão, investimentos) e seguros traz uma rentabilidade média acima de +31%, mesmo em momentos de crise, contra uma média de +12% em crédito, no histórico.
O desafio do Nubank daqui para frente será de revolucionar o seu negócio para começar a oferecer mais serviços, buscando o crescimento de lucros e rentabilidade ao negócio.
O IPO de “Nu”
A companhia distribuirá suas ações em bolsa americana, New York Stock Exchange (NYSE), com o código “NU”, e seus BDRs serão distribuídos na bolsa Brasileira, B3, com o código “NUBR33”.
O IPO será primário (recursos vão para o caixa da companhia) de até 3,5 bilhões de dólares e secundário (acionistas atuais venderão suas participações) de até 455 milhões de dólares, considerando a venda de ações adicionais e suplementares e o preço médio da faixa indicativa.
Dos recursos do IPO, 25% serão destinados para capital de giro, 25% para despesas operacionais, 25% para despesas de capital e 25% para investimentos e aquisições potenciais.
A companhia pretende expandir sua operação via aquisições, além de reforçar recursos para crescimento (capital de giro), funcionários, instalações e infraestrutura (operacional e capital).
Tem risco no roxinho?
Na corrida digital, vence quem é capaz de reter mais clientes e inovar com seus produtos e serviços.
Com seu ecossistema de serviços bancários e de investimentos, Nubank já compete com bancões, bancos de investimentos e fintechs.
A concorrência está cada vez maior, e a companhia precisa elevar suas vantagens competitivas, tecnologia e base de clientes o suficiente para não perder mercado para os demais.
Adaptação e execução serão essenciais para que o roxinho não fique para trás.
Nubank de graça?
Outra forma de se tornar acionista da companhia via BDRs é com um recebimento gratuito de um BDR. Um BDR é basicamente um pedaço da empresa, um recibo de uma ação. Cada BDR do Nubank vai representar cerca de ⅙ (um sexto) de uma ação negociada na bolsa de NY.
Com o programa “NuSócios”, estima-se que o Nubank “doará” entre 18,3 milhões a 22,9 milhões de BDRs aos seus clientes, sendo no máximo 1 BDR por pessoa.
A partir do dia 9 de novembro, todos os clientes adimplentes e que estejam com negociações feitas nos últimos 30 dias poderão aderir ao programa.
Todos os acionistas-clientes que receberem seu BDR via programa “NuSócios” não poderão negociar seu BDR por um período de 12 meses (período de lock-up).
Além de proporcionar a entrada de novos investidores no mercado de capitais, o Nubank se beneficia com um cross sell imediato com a oferta de seus BDRs e o uso de sua corretora (Easynvest).
Vale a pena entrar no IPO do Nubank?
Com o histórico de prejuízo e perfil de tech (balanço mais leve), a forma mais “ortodoxa” de avaliar Nubank é por meio de um crescimento projetado.
Com um valor de mercado (cotação x quantidade de ações) de 49 bilhões de dólares na faixa média do IPO (US$10,50) e um P/L (Preço/Lucro) histórico da bolsa de 15x, significa que a companhia precisaria entregar um lucro de 3,3 bilhões de dólares (49bi/15) para negociar em um múltiplo em linha com a média histórica da nossa bolsa.
Para atingir esse lucro bilionário, Nubank precisaria lucrar 260x mais do que o lucro reportado no 1º semestre de 2021, considerando um dólar médio de seis reais.
Com o forte crescimento de clientes e a estratégia de não lucrar para crescer mais rápido, Nubank tem capacidade de gerar grandes lucros no longo prazo, mas fica impossível saber se esses patamares de expectativas já precificados realmente acontecerão.
O veredito
O “preço” do IPO de Nubank vem bastante "salgado" pela falta de crescimento de lucro.
Temos uma geração de novos bancos na bolsa com crescimento fortíssimo, capacidade de execução já comprovada e preços (múltiplos) baixos.
Da filosofia de valor que utilizo para selecionar minhas ações da carteira do Nord Ações, dentre os bancos "novos", tenho preferência por BTG Pactual (BPAC11) e XP Investimentos (XPBR31).
BTG Pactual possui um histórico de crescimento de lucros de +46% nos últimos anos, com lucro de 1 bilhão de dólares nos últimos 12 meses. Suas captações de investimentos (motor de crescimento) crescem, em média, +40%.
A XP Investimentos, ex-investida do Banco Itaú, tem crescimento médio de lucros de +50% ao ano, com lucro de 600 milhões dólares nos últimos 12 meses e crescimento de captações nos patamares de +40%.
Enquanto os bancos tradicionais possuem baixo crescimento de lucros e ROE (rentabilidade para o acionista) próximo a 15%, vemos BTG com ROE de 17% e XP com 20%.
A dupla BTG e XP possui o melhor dos mundos: crescimento de fintech e ROE de bancões. Seus preços são baixos e crescimento alto, com capacidade de execução já comprovada. Não é o que vemos no Nubank (ainda).
Por isso, o meu veredito é de não participar da oferta do Nubank.
Minha preferência no setor é XP e BTG, mas vou acompanhar os próximos passos do roxinho bem de perto.
Detalhes da oferta
Se mesmo assim você desejar participar, o período de reserva vai até o dia 7 de dezembro, e as ações passarão a ser negociadas em Bolsa a partir de 9 de dezembro.
O valor mínimo para participar da oferta destinada ao varejo é de 30 reais, e o máximo de 300 mil reais.