IPCA de 0,26% em setembro ainda não justifica aceleração de queda da Selic
Fiscal, ipca de setembro e juro nos EUA impactam ritmo de queda da Selic; entenda
A inflação de setembro subiu 0,26% enquanto o mercado esperava uma alta de 0,33%, ou seja, bem abaixo do esperado.
Para o Banco Central e para a política monetária, o que importa não é apenas o número cheio, mas sim os núcleos de inflação. Os núcleos excluem itens muito voláteis e que pouco explicam a dinâmica da atividade e da espinha dorsal da inflação.
O Banco Central tem cinco medidas diferentes de núcleos, que podem ser encontradas no site após toda divulgação de IPCA pelo IBGE.
Média dos cinco núcleos
A média dessas cinco medidas caiu em relação ao mês anterior e, comparando com outros dados antigos de setembro, veio em um patamar bem baixo.
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Além disso, quando olhamos especificamente para serviços, também vemos uma situação bem confortável e compatível com uma desaceleração.
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Ritmo de queda da taxa de juros
“Oras, mas se a situação é mais confortável, não deveríamos ter acelerado o passo da queda da Selic?” — você deve estar pensando.
Na verdade, não. O nível até onde a taxa Selic pode cair tem muito a ver com a nossa inflação, mas tem muito a ver também com a taxa de juros do resto do mundo, principalmente a dos EUA, que é a grande referência mundial.
Recentemente, vimos as taxas americanas subirem para patamares que não víamos há muitos anos.
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Juros mais altos nos EUA impactam investimentos no Brasil
Esse aumento coloca um piso no nosso ciclo de queda, sob o risco dos nossos investimentos ficarem menos atrativos em relação aos americanos, provocando uma saída de capital com desvalorização cambial.
A desvalorização acaba gerando inflação e limitando, portanto, o quanto a Selic pode cair.
Se isso é verdade e a taxa brasileira não pode cair muito, então o que teremos é uma convicção maior de que a inflação será controlada. Afinal, teremos uma taxa maior do que a simples análise da política monetária local recomendaria.
Cautela, parcimônia, paciência e serenidade
Isso não quer dizer que inflação não é um problema ou não é um risco. Até porque ainda temos um caminho importante até a meta da inflação em 3%, no entanto, pelo menos hoje, essa não é a minha maior preocupação.
Acredito que questões fiscais ou nível de juro americano são variáveis muito mais importantes para a curva de juros brasileira e para a precificação de prefixados e IPCA+ do que dados de inflação.
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