Inflação acima da meta no Brasil ocorreu oito vezes; última foi em 2024
Desde 1999, o Brasil adotou o regime de metas de inflação para garantir a estabilidade de preços e proporcionar previsibilidade econômica. Nesse período, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ultrapassou o limite máximo da meta em oito ocasiões, a mais recente em 2024.
Esses eventos refletem os desafios econômicos enfrentados pelo país e destacam o papel do Banco Central na condução da política monetária.
Como funciona o regime de metas de inflação?
O regime de metas de inflação é um sistema no qual o Conselho Monetário Nacional (CMN) define um objetivo anual para o IPCA, com uma margem de tolerância.
O Banco Central, por meio do Comitê de Política Monetária (Copom), é responsável por implementar medidas que mantenham a inflação dentro desse intervalo, utilizando a taxa Selic como principal ferramenta.
Carta aberta: explicando o descumprimento da meta de inflação no Brasil
O regime de metas de inflação no Brasil, adotado desde 1999, exige que o presidente do Banco Central escreva uma carta aberta ao Ministro da Fazenda sempre que a inflação ultrapassa o intervalo de tolerância definido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
Ela é um instrumento de transparência, detalhando as razões do descumprimento, as medidas tomadas para corrigir o curso da inflação e o prazo esperado para a retomada aos limites estabelecidos.
Por que a inflação ultrapassa a meta? O que diz a carta de Galípolo
Na carta divulgada pelo atual presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, em janeiro de 2025, foram apresentados os principais fatores que levaram o IPCA a fechar 2024 em 4,83%, acima do teto da meta de 4,5%.
Segundo Galípolo, a alta da inflação foi resultado de:
Escalada do dólar
A valorização da moeda americana impactou os preços de produtos importados e de commodities com cotação internacional.
Aquecimento da economia
O ritmo elevado de atividade econômica contribuiu para pressionar a demanda e, consequentemente, os preços.
Fatores climáticos
Eventos climáticos extremos afetaram a produção agrícola, pressionando os preços dos alimentos.
A carta também destacou que, apesar dos desafios, o cenário agora oferece maior visibilidade para que o Comitê de Política Monetária (Copom) continue com as medidas de controle inflacionário.
Além disso, Galípolo reafirma o compromisso do Banco Central com a convergência da inflação à meta e aponta para um ciclo de alta contínua da taxa Selic, atualmente em 12,25%.
Segundo ele, o Copom deve realizar novos aumentos nas reuniões de janeiro e março de 2025, com altas de 1 ponto percentual cada, visando controlar as pressões inflacionárias.
Ele também reconheceu que a inflação deve permanecer acima da meta até o terceiro trimestre de 2025, mas projeta um declínio gradual no final do ano.
A carta na íntegra foi publicada pelo Banco Central no dia 10 de janeiro de 2025.
O impacto da inflação acima da meta
A inflação acima do limite afeta diretamente o custo de vida das famílias e o planejamento das empresas.
Para controlar os preços, o Banco Central utiliza a taxa básica de juros, a Selic, que atualmente está em 12,25% ao ano. Essa estratégia reduz o consumo, mas também freia o crescimento econômico, desestimula investimentos e pode aumentar o desemprego.
Essa dualidade desafia o equilíbrio entre controlar os preços e incentivar o desenvolvimento econômico.
A mudança para o regime de meta contínua
A partir de 2025, o Brasil adotará o regime de meta contínua, que considera a inflação acumulada nos últimos 12 meses.
Esse sistema é mais flexível e reduz a necessidade de explicações formais em casos de variações temporárias. Essa mudança segue exemplos internacionais e busca aprimorar a política monetária no país.
Em um exemplo prático, um aumento sazonal nos preços dos alimentos não exigirá explicações imediatas, como ocorre no modelo atual.
A relação entre inflação, política fiscal e mercado
O cenário fiscal brasileiro, com aumento da dívida pública e medidas que geram incerteza, tem influenciado negativamente as expectativas do mercado. Isso reforça a necessidade de alinhamento entre a política monetária e fiscal para restaurar a confiança e garantir o equilíbrio econômico.