As notícias de que o fenômeno El Niño deve continuar até abril de 2024 atraíram as atenções do mercado. Isso porque, além de mais intensos, os eventos meteorológicos afetam as chuvas e os solos e, consequentemente, as safras. No Brasil, o El Niño levou muita chuva ao Sul e um clima mais seco às regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste.

E agora? Quais os riscos para as safras daqui em diante?

Entenda como o fenômeno pode influenciar o seu bolso (e a bolsa!).

Como o El Niño afeta o clima no Brasil

Em resumo, o El Niño é um fenômeno que provoca alterações nas temperaturas das águas do Oceano Pacífico, podendo refletir na redução das chuvas nas regiões Norte e Nordeste do Brasil e aumentando as chuvas no Sul.

Abaixo, trazemos um gráfico que mostra o índice que indica anomalias do El Niño. Como podemos observar, 2015 foi o pior ano do fenômeno, que impactou nossa safra de grãos com uma queda de cerca de -10%.

No entanto, para este ano as estimativas ainda não são tão elevadas. 

Recentemente, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) reduziu sua projeção para a safra de grãos de 2024 com uma queda de -2,4% comparada a 2023. O IBGE, por sua vez, estima um recuo maior, de -3,2%.

Vale ressaltar que os possíveis impactos do El Niño na produção agrícola brasileira dependem da intensidade (ou não) do evento climático nos próximos meses.

El Niño pode pressionar inflação 

A depender da intensidade do fenômeno e seus impactos nas safras do Brasil e de outros países, choques inflacionários podem ocorrer. 

A quebra de safras de forma relevante pode refletir em preços mais elevados para os alimentos e são “ponto de atenção” para a inflação. A estiagem no Norte do país, por sua vez, pode refletir no aumento dos preços da energia elétrica resultando em aumento nos preços de diversos produtos e serviços.

Seja como for, o cenário atual ainda não é de impactos relevantes para a inflação, até o momento.

Efeitos na bolsa

Na bolsa, as empresas do agronegócio acabam sendo impactadas de alguma forma pelo fenômeno climático.

Na carteira recomendada de ações Nord Deep Value, destacamos os impactos sobre as empresas ligadas ao agronegócio.

Kepler Weber (KEPL3)

A Kepler Weber é líder em armazenamento e soluções de pós-colheita na América Latina.

Apesar de terem recebido a solicitação de alguns agricultores pedindo para segurar os pedidos, os impactos do El Niño não são significativos até agora. Considerando a probabilidade de um aumento contínuo na temperatura global, a empresa acredita que 2024 deverá ser um ano desafiador, como foi 2023, e por isso tem colocado mais esforços nas divisões de agroindústrias.  

Vittia (VITT3)

A Vittia é uma empresa de produtos para proteção e nutrição vegetal, dois itens fundamentais para as lavouras.

A companhia reportou estar sentindo mais o impacto do fenômeno climático neste momento. O ponto positivo é que a Vittia tem uma exposição elevada no Sudeste, principalmente em Minas Gerais e São Paulo, onde o efeito do El Niño ainda não é significativo. Entretanto, dada a menor demanda no momento, a empresa entende que 2024 também será um ano desafiador.

Minerva (BEEF3)

Entre as ações de frigoríficos, temos preferência por Minerva, a maior exportadora de carne bovina da América do Sul.

Os efeitos do fenômeno climático nas operações da empresa seriam basicamente na disponibilidade de animais para o abate, que poderiam ser afetados pelas secas nas pastagens, e/ou nos preços mais altos do milho com uma possível quebra de safra. 

Além dos cenários ainda não apresentarem esses impactos, a operação da Minerva também é uma vantagem, pois boa parte das plantas fica mais ao sul do Brasil e em outros países, como Uruguai, Paraguai, Argentina e Chile.

De modo geral, ainda não vemos grandes impactos nas empresas acima e seguimos confiantes em manter recomendação de compra para KEPL3, VITT3 e BEEF3.

Fonte: Bloomberg