Ibovespa ignora IPCA e cai com inflação nos EUA
O mercado sofreu um duro golpe na quarta-feira, 10, com as bolsas caindo forte ao redor do mundo e as taxas de juros subindo bastante.
No Brasil foi igual. O Ibovespa ignorou o IPCA mais fraco e caiu acompanhando o recuo das principais bolsas internacionais.
IPCA vem abaixo do esperado
O IPCA, principal dado da inflação local, fechou o mês de março com alta de 0,16%, enquanto o mercado esperava uma alta de 0,25%.
O número por dentro também foi muito positivo, com núcleos de inflação caindo bastante, de 0,49% para 0,19%.
A média de núcleos faz vários cálculos que tentam expurgar itens voláteis e movimentos que não são ligados ao fundamento da economia. Por isso, a queda dessa média é bem positiva para a perspectiva futura do número.
Além disso, quando consideramos o padrão sazonal, vemos ser comum a inflação subir em torno do final para o início do ano e, depois, em março começa a cair.
Mesmo assim, esse foi dos menores valores para março da série histórica, como podemos ver pelo gráfico.
Isso tudo reforça que estamos em um processo consistente de desinflação no Brasil.
Lembrando que na última reunião do Copom, o Banco Central (BC) avisou que, se o cenário base de desinflação continuasse, a autarquia seguiria reduzindo os juros em 50 pontos por mais duas vezes.
No entanto, se o cenário base mudasse, seria mais uma de 50 pontos e depois reduziria o passo para 25 pontos.
O IPCA de março foi um reforço ao cenário base do BC, significando que teria, sim, condições de seguir a queda da Selic em passos de 50 pontos.
Ou seja, a Selic iria para 10,25% em maio e para 9,75% em junho.
CPI nos EUA preocupa mercados
Tudo teria ido muito bem no mercado brasileiro ontem, se não fosse o banho de água fria dado pela inflação americana.
Ao contrário do Brasil, os dados americanos vieram bem pior que o esperado. A inflação ao consumidor (CPI) dos EUA registrou alta de 0,38%, enquanto o mercado esperava alta de 0,30%.
O número por dentro foi ainda pior do que o cheio, com o CORE (núcleo) acelerando novamente:
A aceleração do CORE pode estar ligada a vários efeitos, mas o mercado desconfia que o mercado de trabalho forte vem pressionando esses dados.
A falta de desaceleração econômica com desemprego baixo poderia ainda estar aumentando os itens mais ligados a atividade econômica. Isso significaria que o Fed (o banco central americano) continua bem longe de poder cair os juros nos EUA.
Os juros americanos subiram bastante depois do dado, indo para níveis de 4,6% ao longo da curva. Ou seja, é como se os EUA não fossem nunca mais cair as taxas.
Me parece um pouco esticada essa precificação.
Dados econômicos nos EUA
Outros dados econômicos ligados ao mercado de trabalho norte-americano, estão dando sinais importantes de desaceleração, como o crescimento dos salários, candidatos por vaga, vagas difíceis de preencher, entre outros.
Além disso, 70% do CORE está ligado a um único item, os aluguéis. Este item, apesar de ter desinflacionado, é calculado no índice como sendo uma média móvel.
Ou seja, o que ele está mostrando agora é o que acontecendo nos anos anteriores.
Dados atuais ligados aos aluguéis mostram uma volta para seu patamar normal.
Com base nesse descasamento temporal, só veríamos a desinflação total de aluguéis no CPI ao final de 2025.
Por esses motivos, eu entendo o medo do mercado olhando um núcleo acelerando, mas acredito que temos dados mais do que suficientes apontando que 5% é de fato uma taxa contracionista para a política americana.
Isso significa que mais cedo ou mais tarde, o Fed poderá cortar os juros, voltando para patamares de 2-3% de taxa de juros.
Onde estão as oportunidades de investimento?
Quando o corte de juros nos EUA acontecer, acredito que olharemos para trás e pensaremos que aplicar juros longos nos EUA a 4,5% foi uma das melhores oportunidades de ganho de capital em 2024.
Quando olhamos para os emergentes, incluindo o Brasil, veremos que os juros longos desses países também estão mais altos por conta do contágio da alta dos juros americanos.
Isso também traz uma excelente oportunidade nos juros brasileiros!
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