Fusão Cogna (COGN3) e Yduqs (YDUQ3): entenda as novas negociações entre as gigantes da educação
Sete anos após a reprovação do Cade para a fusão entre Kroton e Estácio, agora renomeadas Cogna e Yduqs, as duas maiores empresas de educação no Brasil voltaram a conversar sobre uma possível combinação de atividades. Este movimento ocorre em meio a outras negociações no setor de educação, com destaque para a concorrência acirrada no ensino à distância (EAD) e no mercado de educação básica.
Cogna e Yduqs: reuniões para uma nova fusão
A fusão entre Cogna (COGN3) e Yduqs (YDUQ3) voltou à mesa de negociações, quase sete anos após a primeira tentativa ser vetada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Na ocasião, a fusão das então Kroton e Estácio, antigas denominações das empresas, foi reprovada por conta da concentração no mercado de ensino superior, especialmente no segmento de ensino à distância (EAD).
Agora, as duas companhias voltam a negociar uma combinação de atividades, mas com novos desafios e cenários. A Cogna, por exemplo, busca incluir sua operação de educação básica na fusão, uma estratégia que a deixaria em desvantagem caso seja excluída, como deseja a Yduqs.
Desafios da fusão entre Cogna e Yduqs
Entre os principais obstáculos para essa fusão está a questão dos ativos de educação básica da Cogna. A empresa possui operações relevantes nesse setor, principalmente através da Vasta, que é listada na Nasdaq. A Vasta inclui sistemas de ensino conhecidos, como Anglo e pH, e teve um Ebitda de R$ 400 milhões em 2023. Adicionalmente, a divisão de venda de livros didáticos das editoras Saraiva, Ática e Scipione ao governo federal rendeu um Ebitda recorrente de R$ 175 milhões no mesmo período.
Por outro lado, a Yduqs, focada no ensino superior, não demonstra interesse em adquirir esses ativos de educação básica, o que cria um impasse. Sem incluir essas operações na fusão, a Cogna poderia ficar em desvantagem estratégica.
Linha do Tempo: as negociações entre Cogna e Yduqs
2017: A Primeira Tentativa de Fusão
Em 2017, Cogna e Yduqs, que na época se chamavam Kroton e Estácio, tentaram uma fusão que criaria o maior conglomerado de educação superior da América Latina. No entanto, o Cade barrou essa combinação de negócios, principalmente pela preocupação com a concentração no setor de ensino à distância (EAD). Se aprovada, a fusão das duas empresas representaria cerca de 40% do mercado de EAD, algo que o órgão regulador considerou prejudicial à concorrência.
2022: O Retorno do Interesse em Fusões no Setor
Com a pressão econômica causada pelo aumento das taxas de juros e o impacto da crise do desemprego nas matrículas do ensino superior, os grandes grupos de educação, incluindo Cogna e Yduqs, voltaram a considerar fusões como estratégia de sobrevivência. Em agosto de 2022, a Yduqs sinalizou ao mercado seu interesse em fusões, especialmente após a queda de 12% no valor de suas ações, reflexo de resultados financeiros aquém das expectativas.
Setembro de 2024: Cogna e Yduqs Reabrem Conversas
Agora, em setembro de 2024, as negociações entre Cogna e Yduqs ganharam força novamente. O setor de educação está passando por novas movimentações, com várias empresas buscando fusões e aquisições para aumentar a competitividade, o que coloca ainda mais pressão sobre as gigantes da educação. Desta vez, no entanto, a negociação enfrenta novos desafios estruturais, especialmente relacionados aos ativos de educação básica da Cogna.
Impacto financeiro das empresas
Em termos financeiros, as duas companhias apresentam números bastante parecidos, o que torna a fusão ainda mais estratégica. Em 2023, a Cogna registrou uma receita líquida de quase R$ 6 bilhões e um Ebitda de R$ 1,8 bilhão. Já a Yduqs teve uma receita de R$ 5,1 bilhões, com um lucro operacional de R$ 1,6 bilhão.
O Morgan Stanley foi contratado pela Yduqs como assessor financeiro nas conversas de fusão, enquanto a Cogna ainda não possui um assessor definido para essas negociações.
A reprovação anterior pelo Cade
A reprovação da primeira tentativa de fusão entre Kroton e Estácio, em 2017, se deu principalmente pela concentração de mercado no segmento de ensino à distância (EAD). Na época, as duas empresas combinadas representariam cerca de 40% do mercado de EAD, algo que o Cade considerou como um risco à concorrência.
No entanto, o cenário atual pode ser diferente, uma vez que o mercado de EAD se expandiu consideravelmente nos últimos anos, além do crescimento de outras plataformas e instituições atuantes no setor.
Principais desafios da fusão em 2024
1. Impasses em Torno da Educação Básica
Um dos maiores obstáculos para a fusão entre Cogna e Yduqs está relacionado aos ativos de educação básica da Cogna, que deseja incluir essas operações na negociação. A Yduqs, porém, não tem interesse em assumir essa parte do negócio, que inclui o grupo Vasta. Essa divisão é um ativo importante da Cogna, com um Ebitda de R$ 400 milhões em 2023, além de contar com sistemas de ensino como Anglo e pH.
Outro componente relevante da educação básica da Cogna é a venda de livros didáticos para o governo federal por meio das editoras Saraiva, Ática e Scipione. Em 2023, esse segmento gerou um Ebitda recorrente de R$ 175 milhões. Sem a inclusão desses ativos na fusão, a Cogna poderia ficar em uma posição de desvantagem em relação à Yduqs, criando um impasse nas negociações.
2. Histórico de Concentração no Mercado de EAD
A concentração no mercado de ensino à distância continua sendo uma questão relevante. Mesmo que o cenário de EAD tenha mudado significativamente desde 2017, com o surgimento de novos concorrentes, plataformas online e maior diversificação de oferta, a combinação de Cogna e Yduqs ainda poderia levantar preocupações por parte do Cade. O órgão regulador pode exigir uma revisão aprofundada da fusão para garantir que a concorrência no setor não seja prejudicada.
3. Finanças das Empresas
Financeiramente, tanto Cogna quanto Yduqs apresentam resultados robustos, mas com algumas variações que podem influenciar a dinâmica da fusão. A Cogna encerrou 2023 com uma receita líquida de quase R$ 6 bilhões e um Ebitda de R$ 1,8 bilhão. A Yduqs, por sua vez, registrou R$ 5,1 bilhões em receita e R$ 1,6 bilhão em lucro operacional. Embora semelhantes em tamanho, a diferença na estrutura de negócios, especialmente com a Cogna mais exposta à educação básica, pode influenciar os termos da negociação.
4. Assessorias Financeiras
Outro ponto relevante é que a Yduqs já contratou o Morgan Stanley como seu assessor financeiro nas negociações de fusão e aquisição. A Cogna, até o momento, não possui uma assessoria financeira formal definida, o que pode indicar uma etapa inicial de suas discussões.
O Mercado de Educação no Brasil: Mudanças e Competição
As negociações entre Cogna e Yduqs ocorrem em um contexto de grande agitação no mercado de educação brasileiro. Além das conversas entre as duas gigantes, outras empresas também estão explorando possíveis fusões e aquisições.
Vitru e Cruzeiro do Sul: concorrência direta
A Vitru, que atua fortemente no setor de EAD, também está em meio a rumores de fusão ou venda. A companhia contratou o Itaú BBA e o UBS BB para assessorá-la na análise de “potenciais oportunidades estratégicas”. Entre os possíveis interessados estão o Grupo Cruzeiro do Sul e a própria Yduqs. Se a Vitru se fundir com a Cruzeiro do Sul ou for adquirida pela Yduqs, isso poderá alterar o equilíbrio de forças no setor educacional, ampliando ainda mais a concorrência para a Cogna.
Expansão no Setor de EAD
O ensino à distância tem se consolidado como uma das áreas mais estratégicas para os grupos educacionais. Tanto a Cogna quanto a Yduqs têm investido fortemente em EAD, aproveitando a digitalização acelerada pela pandemia. No entanto, esse mercado também atrai novos players, aumentando a concorrência e exigindo das empresas tradicionais uma constante adaptação e inovação.
Futuro da Cogna e Yduqs
A fusão entre Cogna e Yduqs ainda está longe de ser confirmada, mas o mercado de educação no Brasil continua em constante movimento. Outras empresas também estão atentas a possíveis oportunidades de fusão e aquisição, como a Vitru e o Grupo Cruzeiro do Sul, o que coloca pressão sobre as gigantes do setor para acelerar seus planos de expansão e inovação.
Além disso, a Cogna anunciou recentemente um programa de recompra de ações, com o objetivo de gerar valor aos acionistas e otimizar sua estrutura de capital. Esse movimento pode ser visto como uma estratégia da empresa para fortalecer sua posição antes de qualquer acordo de fusão.