Ao longo das últimas décadas, diversos furacões devastadores marcaram a história e causaram tragédias humanitárias e econômicas, especialmente nas Américas e no Caribe. Atualmente, o furacão Helene e o furacão Milton trouxeram à tona a vulnerabilidade crescente das regiões costeiras e a importância de entender a natureza dessas tempestades para minimizar futuros danos.

Furacões históricos que devastaram o mundo

Furacão de Galveston (1900)

O furacão de Galveston, que atingiu o Texas em setembro de 1900, é o mais mortal da história dos Estados Unidos. Estima-se que entre 6.000 e 12.000 pessoas morreram quando a cidade costeira de Galveston foi destruída por ventos de até 225 km/h. A maré de tempestade inundou grande parte da cidade, resultando na destruição de cerca de 7.000 edifícios. A tragédia revelou a fragilidade das regiões costeiras diante da força implacável dos furacões.

Furacão Mitch (1998)

O furacão Mitch, de categoria 5, atingiu a América Central em outubro de 1998 e causou uma devastação imensa, especialmente em Honduras e Nicarágua. Aproximadamente 11.000 pessoas morreram, com inundações massivas e deslizamentos de terra sendo responsáveis pela maioria das fatalidades. Mitch foi um dos furacões mais mortais já registrados no Atlântico, com suas chuvas torrenciais destruindo infraestrutura e plantações, além de deixar milhares de desabrigados.

Furacão Katrina (2005)

O furacão Katrina, que atingiu o sul dos Estados Unidos em agosto de 2005, foi um dos eventos mais devastadores do século XXI. Com ventos de até 280 km/h, Katrina causou inundações massivas em Nova Orleans, devido ao rompimento dos diques que protegiam a cidade. Cerca de 1.800 pessoas perderam a vida, e os danos econômicos chegaram a US$ 125 bilhões, tornando-o o desastre natural mais caro da história dos EUA. A resposta inadequada das autoridades foi amplamente criticada, resultando em melhorias nos sistemas de resposta a desastres.

Furacão de Okeechobee (1928)

Em setembro de 1928, o furacão de Okeechobee varreu o Caribe e a Flórida, matando entre 2.500 e 3.000 pessoas. O transbordamento do Lago Okeechobee causou inundações devastadoras, principalmente em comunidades agrícolas, com grande parte das mortes ocorrendo em populações vulneráveis, como trabalhadores migrantes. Este furacão é um dos mais mortais já registrados na Flórida.

Tufão Haiyan (2013)

O Tufão Haiyan, conhecido localmente como Yolanda, foi uma das tempestades mais poderosas da história. Ele atingiu as Filipinas em novembro de 2013, com ventos de até 315 km/h, matando cerca de 6.300 pessoas e deixando milhões de desabrigados. A cidade de Tacloban foi severamente atingida, com a infraestrutura local completamente destruída. Haiyan destacou a vulnerabilidade de áreas tropicais a ciclones de alta intensidade e o impacto devastador que podem ter em países em desenvolvimento.

Furacão Andrew (1992)

O furacão Andrew, de categoria 5, atingiu o sul da Flórida em agosto de 1992, devastando comunidades inteiras com ventos de até 265 km/h. Andrew causou a destruição de 63.000 casas, deixou mais de 175.000 pessoas desabrigadas e resultou em 65 mortes. O impacto econômico foi devastador, com prejuízos superiores a US$ 27 bilhões. Embora o número de mortos tenha sido relativamente baixo, Andrew é lembrado como um dos furacões mais destrutivos em termos de danos materiais.

Furacão Maria (2017)

O furacão Maria, de categoria 5, devastou Porto Rico e outras ilhas caribenhas em setembro de 2017. Com ventos de até 250 km/h, Maria causou mais de 3.000 mortes e destruiu grande parte da infraestrutura de Porto Rico, deixando milhões de pessoas sem eletricidade por meses. Os prejuízos ultrapassaram US$ 90 bilhões, tornando Maria um dos furacões mais custosos e mortais da história recente.

Os recentes furacões Helene e Milton

Em 2024, os furacões Helene e Milton trouxeram novamente a atenção mundial para o poder devastador dos ciclones tropicais e o impacto das mudanças climáticas na intensificação dessas tempestades.

Furacão Helene (2024)

Helene, que atingiu a Flórida e a Costa do Golfo no final de setembro de 2024, foi um dos furacões mais letais nos Estados Unidos desde o furacão Katrina. Classificado inicialmente como categoria 4, com ventos de até 220 km/h, Helene devastou partes das Carolinas, Geórgia e Flórida, deixando pelo menos 223 mortos e centenas de desaparecidos. As inundações rápidas e os ventos fortes destruíram infraestruturas elétricas, com grandes porções da rede elétrica sendo totalmente apagadas, o que dificultou a resposta de emergência.

Autoridades locais enfrentaram desafios enormes para restaurar os serviços básicos, como água potável e eletricidade, especialmente nas regiões mais isoladas. O presidente Joe Biden e a vice-presidente Kamala Harris visitaram as áreas afetadas, prometendo ajuda federal para a reconstrução. Helene também trouxe à tona o risco crescente de doenças, com as autoridades de saúde alertando sobre o aumento de infecções causadas pelas águas contaminadas das enchentes.

Furacão Milton (2024)

Logo após Helene, o furacão Milton se formou no Atlântico e atingiu a Flórida em outubro de 2024. Classificado como um furacão de categoria 5, Milton trouxe ventos de até 250 km/h, causando uma enorme evacuação em massa nas regiões costeiras. A tempestade seguiu uma trajetória semelhante à de Helene, afetando a Costa do Golfo, a Flórida e áreas das Bahamas.

Milton é considerado um dos furacões mais poderosos das últimas décadas e deixou um rastro de destruição em cidades como Tampa, Ft. Myers e Naples. Milhares de pessoas perderam suas casas, e os esforços de evacuação enfrentaram desafios devido à escassez de combustível e às estradas congestionadas. O governador da Flórida, Ron DeSantis, mobilizou 8.000 agentes da Guarda Nacional para ajudar nos esforços de resgate e recuperação.

Combinados, os prejuízos provocados por Helene e Milton somam dezenas de bilhões de dólares, e especialistas alertam que a temporada de furacões de 2024 poderá ser uma das mais intensas já registradas. As temperaturas anormalmente altas no Golfo do México e no Atlântico têm alimentado tempestades mais fortes e mais rápidas, em linha com o que os cientistas preveem como uma consequência direta das mudanças climáticas.

A estimativa em seguros após furacão Milton é da ordem de 100 bilhões de reais, o maior até o momento.

Por que os furacões têm nome de pessoas?

Os furacões recebem nomes de pessoas por uma questão prática e de segurança. Antes de adotarem nomes, as tempestades tropicais eram identificadas por coordenadas geográficas, o que dificultava a comunicação e causava confusões. O sistema de nomeação foi implementado para facilitar a identificação e a troca de informações entre meteorologistas, o público e os meios de comunicação.

Quem escolhe os nomes dos furacões?

A Organização Meteorológica Mundial (OMM) coordena a lista de nomes, que varia de acordo com a região e é revisada regularmente. Os nomes são escolhidos de uma lista pré-definida e usados em rotação. Se um furacão for particularmente devastador, seu nome pode ser retirado para evitar associações futuras negativas.

A prática de nomear tempestades começou no final dos anos 1800, mas só se popularizou durante a Segunda Guerra Mundial, quando meteorologistas militares começaram a usar nomes femininos para identificar tempestades no Pacífico. Em 1953, os Estados Unidos adotaram oficialmente o sistema, usando apenas nomes de mulheres. A partir de 1979, os nomes masculinos também passaram a ser incluídos.

Por que ocorre um furacão?

Os furacões são fenômenos climáticos poderosos que se formam quando as condições atmosféricas e oceânicas ideais se alinham, criando um ciclo de ventos e tempestades intensas.

A formação de um furacão ocorre em várias etapas:

1. Águas quentes

A principal fonte de energia para a formação de um furacão é o calor das águas do oceano. Para que um furacão se forme, a temperatura da superfície do mar precisa estar em torno de 26,5°C ou mais. O calor e a umidade das águas quentes são fundamentais para o desenvolvimento da tempestade.

2. Evaporação e elevação de ar úmido

Quando o ar quente e úmido sobre o oceano começa a subir, ele esfria, o que faz com que o vapor de água condense em nuvens. Esse processo de condensação libera calor latente, que aquece o ar ao redor, fazendo-o subir ainda mais. Esse ciclo contínuo alimenta a formação de uma tempestade.

3. Baixa pressão e ventos giratórios

À medida que o ar quente sobe, uma área de baixa pressão começa a se formar na superfície do oceano. O ar que está ao redor dessa área de baixa pressão começa a se mover em direção a ela, mas devido à rotação da Terra (efeito Coriolis), esse ar não se move diretamente para o centro, mas em um movimento espiralado, criando ventos que giram em torno do centro da tempestade.

4. Ciclone tropical em desenvolvimento

Conforme a tempestade continua a se intensificar, os ventos se organizam em um padrão circular ao redor do centro, formando o ciclone tropical. O centro desse ciclone, conhecido como olho do furacão, geralmente é uma região de calmaria, com ventos mais fracos e céu claro, cercado por uma parede de nuvens intensas e ventos fortes chamados de paredes do olho.

5. Crescimento e intensificação

Se a tempestade tropical continuar a ser alimentada pelo calor e umidade do oceano, ela pode se intensificar e atingir a velocidade de ventos de pelo menos 119 km/h, momento em que é classificada como um furacão. Quanto mais quente e profundo for o oceano, maior a chance de o furacão se fortalecer.

6. Perda de força

Os furacões perdem força quando se afastam do oceano quente e começam a se mover para terra firme ou para águas mais frias. Sem o calor e a umidade necessários, o sistema começa a enfraquecer e se dissipar.

Como as Cordilheiras dos Andes protegem o Brasil de furacão?

As Cordilheiras dos Andes atuam como uma barreira natural que ajuda a proteger o Brasil da ocorrência de furacões. Isso ocorre por alguns fatores principais:

  • Posição geográfica: As Cordilheiras dos Andes se estendem ao longo da costa oeste da América do Sul, desde a Venezuela até o Chile e a Argentina, formando uma enorme cadeia de montanhas. Elas criam um obstáculo significativo para o fluxo de ar que se move do Oceano Pacífico em direção ao continente sul-americano. Furacões, que se formam em áreas oceânicas tropicais, precisam de vastas superfícies de água para ganhar força, e a presença das montanhas impede que as tempestades vindas do Pacífico avancem para o Brasil.
  • Bloqueio de sistemas atmosféricos: As montanhas influenciam o clima ao bloquear ou desviar sistemas de baixa pressão e correntes de ar. Furacões e ciclones tropicais dependem de umidade e calor para se intensificarem, mas a barreira criada pelos Andes interrompe a circulação desses sistemas na direção leste, limitando sua passagem para o interior do continente e, consequentemente, para o Brasil.
  • Correntes de ar predominantes: A circulação atmosférica na América do Sul é influenciada pela corrente de ar subtropical, que tende a desviar fenômenos meteorológicos extremos para longe da região tropical do Brasil. As Cordilheiras dos Andes ajudam a reforçar esse padrão, fazendo com que ciclones tropicais não se movam para o interior, protegendo assim grande parte da América do Sul, incluindo o Brasil.

Esses fatores combinados ajudam a explicar por que o Brasil, apesar de sua vasta extensão territorial e proximidade com o Atlântico Sul, quase nunca experimenta furacões.

Por que um furacão perde forças ao entrar em contato com o solo?

Um furacão perde força ao entrar em contato com o solo por vários fatores que afetam sua estrutura e capacidade de manter sua intensidade:

  • Perda de umidade: Furacões se alimentam da umidade e do calor das águas oceânicas quentes. O calor liberado pela evaporação da água do mar alimenta a tempestade, intensificando seus ventos e chuvas. Quando o furacão atinge a terra, ele é privado dessa fonte contínua de umidade e calor, começando a perder energia.
  • Fricção com o solo: Ao se deslocar sobre a terra, o furacão encontra mais atrito em comparação com a superfície do oceano, que é relativamente lisa. O terreno irregular — como colinas, montanhas e florestas — cria resistência ao movimento do vento. Esse aumento de fricção desacelera os ventos fortes, reduzindo a força geral da tempestade.
  • Dispersão de energia: Ao se mover sobre o solo, o furacão precisa "gastar" mais energia para se manter, já que o calor e a umidade não estão mais disponíveis da mesma forma que no oceano. Isso faz com que sua estrutura perca organização, e os ventos e chuvas começam a se dispersar mais rapidamente.
  • Resfriamento do ar: O ar sobre a terra é geralmente mais frio do que sobre o oceano, o que também contribui para a perda de energia do furacão. Como o ar frio não proporciona o calor latente necessário para sustentar a tempestade, o furacão tende a enfraquecer.

Por esses motivos, a maioria dos furacões perde rapidamente força após atingir o solo, embora ainda possam causar danos significativos em áreas costeiras e até mesmo no interior antes de se dissiparem completamente.