Fiagro-FII: o que é e como funciona a nova forma de investir no agronegócio

Não é novidade que o Brasil é uma das maiores referências do mundo quando se trata do agronegócio.

Em plena ascensão, o setor mais sólido do Brasil foi responsável por mais de 1/4 do PIB brasileiro e se tornou uma grande “fábrica” de bilionários há muitos anos (até mesmo décadas).O número de pessoas físicas que investem em Certificados de Recebíveis (CRAs), Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) e Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagros) tem crescido de forma expressiva, refletindo o crescente interesse por essas oportunidades no mercado financeiro.

A pergunta é: você já investe em Agro?

O investimento no agronegócio tem se mostrado uma escolha estratégica para quem busca a diversificação de portfólios. Dessa forma, se ainda não expôs parte do seu patrimônio — pelo menos, um pouco — às vastas oportunidades desse setor, continue no conteúdo.

O que são Fiagros?

Os Fiagros são veículos financeiros que reúnem os recursos de vários investidores com o objetivo de aplicá-los em diferentes ativos ligados relacionados ao agronegócio, como:

• propriedades rurais;
• instrumentos de dívida como Certificados de Recebíveis do Agronegócio;
• investimentos em empresas e atividades diretamente relacionadas à produção e desenvolvimento do setor agroindustrial.

Quais são os tipos de Fiagro?

De acordo com a lei 14.130/2021, os Fiagros podem ser negociados em três categorias.

Fiagro-FIDC

Trata-se de fundos que seguem a estrutura dos FIDCs para investimentos em direitos creditórios da agroindústria. 

Fiagro-FIP

Fundos com propósito de investimento em participações em sociedades, ou seja, ativos reais, como fazendas, florestas, entre outros.

Fiagro-FII (imobiliários)

Voltados para investimentos em ativos imobiliários e títulos constituídos nos termos da Instrução CVM 472.

As cotas das duas primeiras classes do produto só podem ser distribuídas para investidores qualificados, enquanto os Fiagros-FIIs são liberados ao público em geral, como ocorre em grande parte dos Fundos Imobiliários.

Como funcionam os Fiagro-FII?

No que se refere aos Fiagros-FIIs, que serão o foco da nossa análise por serem o principal veículo para o pequeno investidor, temos uma estrutura muito semelhante à dos FIIs, com mandatos de investimentos definidos, taxas de administração/gestão e performance, gestoras especializadas, entre outros.

Além disso, eles também seguem as mesmas regras tributárias dos FIIs. A diferença é que a política de investimentos desses veículos tem o foco voltado para o agro, sendo que podemos diferenciá-los em duas principais classes:

• Fiagros de equity: aqueles cujo mandato é voltado para compra direta de terras e/ou imóveis atrelados ao setor agrícola;
• Fiagros de dívida: focados em aplicar seus recursos em instrumentos de dívida no setor, como os

Outra diferença importante desses ativos em relação aos FIIs é a não obrigatoriedade da distribuição de 95% dos lucros auferidos no semestre. Nesse caso, cabe ao gestor definir a política de distribuição do fundo.

Um mercado em expansão

De acordo com o boletim mensal divulgado pela B3 em maio de 2024, o número de investidores em Fiagros atingiu cerca de 520 mil, com pessoas físicas (PF) representando 93,2% desse total.

A título de comparação, no mesmo período do ano anterior, o número de investidores PF era próximo a 280 mil, representando 92,4% da base.

Isso representa um crescimento de aproximadamente 85,7% na quantidade de investidores pessoa física, destacando o forte avanço e o crescente interesse dos pequenos investidores neste tipo de ativo.

Ainda que seja um número muito inferior ao de investidores de FIIs, que em maio de 2024 já ultrapassava 2,6 milhões, trata-se de um número bastante expressivo para uma classe de ativos nascente.

Concentração em produtos de crédito: desafios e oportunidades para os fiagros

O número de Fiagros negociados em Bolsa tem crescido, com a maioria deles focada em produtos de crédito voltados ao agronegócio, como os CRAs, conhecidos como "Fiagros de papel."

Essa concentração em produtos de crédito merece atenção, pois pode indicar desafios na implementação de estratégias voltadas à compra direta de terras e imóveis relacionados ao setor.

Embora essa questão ainda esteja em desenvolvimento, é importante considerar as possíveis dificuldades de execução de estratégias ligadas a ativos reais (equity) no segmento, algo que também já foi observado em outros fundos imobiliários do agronegócio, como o caso do Quasar Agro (QAGR11).

Lista dos principais Fiagros listados na Bolsa (B3)

Fonte: Bolsa Brasil Balcão (B3).informação extraída em agosto de 2024.

Quais as vantagens do Fiagro-FII?

No nosso entendimento, a principal vantagem de investir em Fiagros é certamente a possibilidade de diversificação setorial.

Afinal, eles permitem que os investidores também recebam uma renda passiva recorrente para além da exposição apenas a FIIs, mas também por meio da exposição a ativos atrelados ao agronegócio, seja via aquisição direta a imóveis rurais (“Fiagros de equity”), seja por meio de ativos financeiros que tenham lastros na cadeia produtiva agroindustrial (“fiagros de dívida”).

Quais os riscos do Fiagro-FII?

Esses instrumentos também estão sujeitos a alguns dos principais riscos que identificamos nos fundos imobiliários, como o caso dos riscos de mercado, taxa de juros, crédito, governança e de liquidez.

Além disso, acrescentamos dois outros riscos muito importantes que devem estar no radar dos investidores.

O primeiro é o risco ambiental, uma vez que os fiagros estão suscetíveis de maneira direta (Fiagros de equity) ou indireta (Fiagros de dívida) às penalidades impostas pelas autoridades por danos ambientais. Esse risco pode afetar os resultados desses ativos, impactando suas distribuições e, por sua vez, o preço da cota de mercado.

Vale destacar também que as leis ambientais sempre podem ser alteradas, exigindo que o fundo se adeque à nova realidade. Esse é o motivo pelo qual o investidor deve escolher uma gestão capaz de realizar um processo de “due diligence” minucioso para blindar o fundo e seus cotistas de surpresas inesperadas.

Outro risco específico do setor é o climático, uma vez que eventos de grande impacto podem afetar a capacidade de produção dos produtores, prejudicando a capacidade de pagamento do arrendamento/dívida e desvalorizando as terras. Daí vem a importância da diversificação geográfica das operações.

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O que esperar dos dividendos de Fiagro-FII?

Atualmente, a maior parte dos Fiagros são do tipo "papel", com carteiras de crédito indexadas ao CDI+. Com a decisão recente do Comitê de Política Monetária (Copom) de interromper o ciclo de cortes da taxa básica de juros, iniciado em agosto de 2023, a Selic permanecerá em dois dígitos (10,50% ao ano) por mais tempo.

Esse cenário, combinado com o spread de crédito que os CRAs cobram de seus devedores, indica uma perspectiva de rentabilidade bastante interessante para esses Fundos.

No entanto, o setor do agronegócio enfrenta desafios significativos, como a quebra de safra e a alta alavancagem dos principais players. Isso cria um cenário de risco de crédito acentuado.

Portanto, embora os Fiagros ofereçam uma perspectiva de remuneração promissora, é essencial considerar os riscos associados, especialmente em função das dificuldades atuais enfrentadas pelo setor agroindustrial.

Retorno acumulado desde jan-24 até ago-24. Fonte: Economcatica.

De olho no que diz a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) 

Até setembro de 2024, a CVM tem seguido uma abordagem constante em relação aos Fiagros. A regulamentação vigente tem se concentrado em garantir a transparência e a proteção dos investidores, adaptando-se às necessidades do mercado e às especificidades dos Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais.

Como funcionam os Fiagros até o momento

A legislação que rege os Fiagros está fundamentada na Lei 14.130/21, que trouxe alterações significativas à lei anterior, originalmente aplicável apenas aos Fundos Imobiliários.

Essa mudança fez com que tanto os FIIs quanto os Fiagros compartilhassem uma base regulatória comum, resultando em regras bastante semelhantes para esses dois tipos de fundos.

De acordo com a legislação dos Fiagros, esses fundos de investimento podem direcionar seus recursos para uma variedade de ativos, incluindo:

• imóveis rurais;
• ativos financeiros vinculados à cadeia produtiva do agronegócio;
• direitos creditórios relacionados ao agronegócio;
• participações em sociedades ligadas à agroindústria;
• cotas de outros fundos de investimento

Atualizações e expectativas futuras

• Ampliação da participação do agronegócio no mercado de capitais: a nova regulamentação visa aumentar a participação do agronegócio no mercado financeiro. Atualmente, esse setor representa cerca de 25% do PIB brasileiro, mas corresponde a apenas 5% dos investimentos no mercado de capitais. A nova regra busca equilibrar essa discrepância, facilitando o acesso a diferentes modalidades de investimento dentro do setor.
• Inclusão e apoio ao setor agrícola: a CVM enxerga a nova regulamentação como uma oportunidade para promover uma função social significativa. Permitindo que grandes players do agronegócio captem recursos diretamente no mercado de capitais, o Plano Safra pode ser direcionado para apoiar pequenos e médios produtores. Isso visa uma inclusão mais ampla e o fortalecimento do setor como um todo.

Como investir em Fiagros-FII?

O investimento em Fiagros é feito da mesma forma que os FIIs, ou seja, basta o investidor comprá-los pelo Home Broker da corretora digitando o ticker, a quantidade desejada e o preço de aquisição. A liquidação financeira do investimento também ocorre em D+2.

Por fim, mesmo sendo uma classe de ativo ainda incipiente, os Fiagros têm potencial de crescimento devido à extrema relevância do agronegócio para o PIB brasileiro, podendo ser um dos principais investimentos de renda passiva para o pequeno investidor daqui a alguns anos junto aos Fundos Imobiliários.

Ainda assim, é importante que o investidor tenha em mente todos os riscos relacionados ao setor antes de investir, além de pagar um preço adequado e procurar sempre Fundos bem diversificados e cujas gestoras possuem vasta experiência no agronegócio, que possui muitas especificidades.