As companhias de saúde Dasa (DASA3) e Amil receberam aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para a criação da Ímpar Serviços Hospitalares, uma nova rede de hospitais e clínicas, com faturamento esperado de R$ 10 bilhões anuais. 

Segundo fato relevante enviado à CVM, não houve manifestações de terceiros ou avocação do Tribunal do Cade com relação à decisão da Superintendência-Geral anunciada em dezembro, de aprovar, sem restrições, a operação. Com isso, a decisão de aprovação se torna definitiva.

A joint venture visa competir diretamente com grandes players do setor, como a Rede D'Or (RDOR3) e Hapvida (HAPV3), oferecendo atendimento integrado e ampliando a cobertura de serviços de saúde no Brasil. 

Saiba mais sobre os desdobramentos dessa decisão histórica para o segmento de saúde.

Joint venture entre Dasa e Amil

A parceria entre Amil e Dasa marca uma nova era no setor de saúde privada no Brasil. A operação, anunciada ao mercado em junho, irá reunir 25 hospitais, seis clínicas oncológicas e seis clínicas médicas na Ímpar Serviços Hospitalares, que terá gestão compartilhada entre Amil e Dasa. 

Ao todo, serão 4,4 mil leitos, majoritariamente localizados na região Sudeste e no Distrito Federal, com maior concentração nas capitais e em Niterói (RJ).

A nova rede de hospitais só fica atrás da Rede D’Or em tamanho, que conta com 12,7 mil leitos e da Hapvida, que possui mais de 6 mil leitos.

Controle conjunto da Ímpar

A nova empresa será controlada 50% pelos acionistas da Dasa e 50% pela Amil, com as duas exercendo co-controle e nenhuma consolidando o resultado da JV em seu balanço. 

O presidente-executivo da nova empresa será Lício Cintra, CEO da Dasa desde fevereiro de 2024 e antigo conselheiro e vice-presidente de fusões e aquisições da Hapvida.  

Impacto econômico e faturamento bilionário

Com a projeção de R$ 10 bilhões em faturamento anual, a nova empresa tem o potencial de movimentar o setor de saúde de maneira expressiva. Essa receita se deve à combinação de operações robustas das duas gigantes, com destaque para a rede de hospitais e clínicas que será integrada e ampliada.

Quais são os objetivos da nova rede de hospitais e clínicas da Amil e Dasa?

Combinando recursos, expertise e infraestrutura, ambas as empresas pretendem melhorar o acesso e a qualidade dos serviços oferecidos. Além disso, a união estratégica busca ampliar a competitividade no mercado, incentivando inovação e eficiência.

Por que a aprovação do Cade é relevante

A decisão do Cade é um marco porque avalia o impacto da fusão no equilíbrio do mercado. A aprovação não afeta a concorrência justa no setor, garantindo que não haverá prejuízos para consumidores e operadoras de saúde.

A dinâmica de consolidação no setor de saúde

Após uma forte onda de transações entre os anos de 2019 e 2021 (envolvendo hospitais, operadoras de planos de saúde e redes de laboratórios), o encarecimento do custo de capital levou a uma desaceleração no processo de consolidação no setor de saúde brasileiro.

O aumento do custo de capital somado aos impactos negativos da Covid-19 nos resultados das empresas do setor (os resultados até hoje não foram totalmente normalizados), elevaram a necessidade de aumentar a eficiência das operações. 

Desta forma, a tendência é de que, pelo menos os grandes players, continuem fazendo algum tipo de movimentação para diluir ainda mais seus gastos e aumentar sua rentabilidade e geração de caixa operacional.

Vale a pena investir em Dasa (DASA3)?

Não. A grande líder no setor de hospitais é a Rede D’Or, que, apesar de ser cerca de 3 vezes maior que a empresa que está nascendo com a fusão entre Amil e Dasa, possui apenas ~4,5% dos leitos privados do país. Além disso, a Rede D’Or está em uma posição (operacional e financeira) privilegiada para surfar a recuperação e consolidação no setor de saúde como um todo.

Negociando a apenas 7x Ebitda, enxergamos a RDOR3 como uma grande oportunidade no NORD 10X.

Rede D’Or lidera consolidação no setor hospitalar

A fusão da Amil e Dasa ocorre em meio a um momento de diversas movimentações no mercado de saúde. 

A própria Dasa recebeu uma injeção de recursos de R$ 1,5 bilhão do seu controlador, a família Bueno, que, segundo fontes, também negocia a venda de uma fatia minoritária do seu negócio de medicina diagnóstica para um grupo estrangeiro.

A Oncoclínicas (ONCO3), por sua vez, anunciou um aumento de capital de R$ 1,5 bilhão para redução de alavancagem e expansão. O Banco Master, que passará a deter 20% da companhia, declarou que pretende expandir, inclusive, por meio de aquisições. 

O banco e o empresário Nelson Tanure são parceiros em vários projetos. Tanure recentemente entrou no setor de saúde com a compra da empresa de medicina diagnóstica Alliança (antiga Alliar) e deixou claro que pretende expandir sua atuação no mercado de saúde.

A controladora da rede de hospitais Kora, a gestora HIG, entrou com um pedido para retirar o grupo do Novo Mercado. O objetivo é encontrar novos caminhos que incluam combinação de negócios e financiamento.

Além disso, as operadoras de convênio médico fecharam um acordo político com o presidente da Câmara, Arthur Lira, a fim de evitar uma CPI e a retomada do projeto que altera a lei dos planos de saúde.

O “casamento” entre Rede D'Or e Bradesco 

Após comprar 17 hospitais depois de realizar seu IPO, a Rede D'Or (RDOR3), a maior companhia do setor, adquiriu a operadora de planos de saúde SulAmérica em 2022 e, recentemente, vendeu sua corretora que comercializa planos de saúde e dental, seguros de vida e previdência para a MDS por R$ 800 milhões. Além disso, criou uma joint venture com a Bradesco Seguros.

As duas companhias vinham se estranhando nos últimos dois anos por competirem nos mesmos mercados (seguro saúde e hospitais), mas se uniram na criação de uma nova empresa que começou com três hospitais da bandeira São Luiz em São Paulo e Rio, e já está sendo expandida, com a inclusão de novos hospitais.

A parceria dá ainda mais fôlego à expansão das duas companhias e tira a preocupação da Rede D’Or em credenciar seus hospitais com a maior seguradora de saúde do país.

Diante da crise no setor de saúde que está pressionando os hospitais, a Rede D’Or acredita que novas oportunidades vão surgir, seja para expansão orgânica ou aquisições. 

“Nos últimos dez anos, 500 hospitais fecharam, outros tiveram queda de qualidade no atendimento ou passaram a atuar em determinados nichos, o que abre oportunidade para crescimento orgânico”, disse Paulo Moll, presidente da Rede D’Or.

Visão geral do projeto de expansão da Rede D'Or

Por meio da atualização de seu Formulário de Referência de 2024, a Rede D’Or (RDOR3) atualizou seu plano de investimentos orgânicos para os próximos anos. 

A companhia não divulgou uma discriminação dos projetos em andamento, como ocorreu no ano passado, mas disse que há mais de 40 projetos greenfield (novos hospitais) e brownfield (expansões).

Ao todo, estão previstos ainda 5.384 leitos a serem entregues entre 2024 e 2028, com um custo médio de aproximadamente R$1,5 milhão/leito, sendo cerca de 70% destes brownfields, que têm um retorno sobre o investimento (ROIC) maior, de 40% (vs. 20% nos greenfields). A companhia possui 11,7 mil leitos atualmente.

De acordo com o cronograma de obras, a Rede D'Or prevê concluir 1.348 leitos ao longo de 2024; 898 leitos em 2025; 1.117 leitos em 2026; 771 leitos em 2027; e 1.250 leitos no ano de 2028. No passado recente, a companhia entregou 411 leitos em 2021, 560 em 2022 e 250 em 2023.

As mudanças no plano de negócios empurram a abertura de leitos para os próximos anos e reduzem os riscos da empresa em um momento de elevado custo de capital. 

Próximos passos da joint venture entre Amil e Dasa 

Após a aprovação, Amil e Dasa deverão detalhar como será a estrutura operacional da nova empresa, bem como seus planos de expansão. O mercado está de olho nos efeitos da joint venture, que pode servir como modelo para futuras parcerias no setor de saúde.