Quando falamos de renda fixa, estamos, basicamente, olhando para a taxa de juros.

Você acessa o site do Tesouro Direto, vê um Prefixado 2029 pagando 11% ao ano e se pergunta: de onde vieram esses 11%? Essa taxa é alta? É baixa? É justa?

Parece que essa taxa nunca vai fazer sentido para você, não parece? Só os engravatados devem entender…

Não! Hoje você vai terminar de ler este artigo entendendo completamente de onde veio essa taxa.

Como são definidas as taxas de juros?

Todas as taxas da nossa economia (todas mesmo) são derivadas da taxa Selic. A taxa Selic é uma taxa que vale para um empréstimo com o governo de apenas 1 dia de duração.

Sabendo disso, fica fácil estimar as derivações:

(1) Se você quiser pegar um empréstimo por mais de 1 dia, terá que estimar qual será a Selic média do período do empréstimo. A taxa média será maior que a Selic se estivermos em um ciclo de alta de juros e será menor se estivermos em um período de queda de juros.

(2) Se quiser pegar um empréstimo com alguém que não seja o governo, terá que pagar uma diferença a mais por conta do risco a mais de crédito incorrido (dado que o governo é o devedor mais seguro de uma economia). Quanto mais arriscado o devedor, maior o spread que ele vai pagar em cima da Selic.

Ou seja, para entender melhor todos os juros da economia e os movimentos de alta e queda deles, temos que focar primeiro nos movimentos da Selic.

E como a Selic se move? É aí que entra o Comitê de Política Monetária (Copom).

Como o Copom calcula a taxa Selic?

A cada 45 dias, aproximadamente, o Copom decide qual será a taxa Selic meta.

O Copom é formado pelo presidente do Banco Central (que hoje em dia é Roberto Campos Neto) e mais alguns diretores do Banco Central.

Eles calibram a taxa de juros para que ela seja suficiente para levar inflação para a meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Hoje, a meta de inflação é 3% para 2024 em diante.

Quando a economia está muito aquecida, a inflação acelera. Então, o BC aumenta a Selic, reduzindo a propensão das pessoas a pegar empréstimo, investir em novos projetos e aumentando a vontade das pessoas de investir nos títulos de renda fixa. Tudo isso reduz o consumo que, por sua vez, desaquece a economia, levando à queda da inflação.

Quando a economia está em recessão, o BC reduz a Selic, estimulando projetos, consumo e barateando empréstimos. Tudo isso aquece a economia e aumenta a inflação.

O BC possui modelos econométricos que auxiliam a diretoria a entender quanto eles precisam subir ou cair as taxas para jogar a inflação na meta.

Parte da estratégia de levar a inflação para a meta é se comunicar bem com o mercado, de tal forma que os agentes entendam e confiem no plano da autoridade monetária.

Como a taxa de juros influencia nos investimentos?

Este, finalmente, é o meu trabalho. Eu analiso todos os documentos que o BC publica, me reúno com diretores e tento entender exatamente aonde eles querem chegar e quando. Assim, tenho melhores chances de acertar os próximos passos da Selic.

Se eu estimo para onde vai a Selic e sei o quanto o mercado precifica para ela, consigo ganhar dinheiro com renda fixa, ora concordando, ora discordando da precificação do mercado.

Não é tão fácil como eu fiz parecer agora nem acerto tanto quanto gostaria, mas esse é o processo.

No site do BC, logo na página principal, é possível ver qual é a taxa Selic do momento.

Na quarta-feira da semana passada, dia 21 de junho, tivemos a reunião do Copom, na qual o BC decidiu manter a Selic em 13,75 bps, como eu falei para vocês no artigo anterior aqui.  

Como a inflação afeta a taxa Selic?

Uma coisa ainda mais interessante tomará os noticiários desta semana, que é a reunião do CMN, que começa nesta quinta, 29.

Lembra que eu disse que o BC persegue a meta de inflação de 3% e que ela é definida pelo CMN?

Pois bem, hoje, o Conselho definirá se a meta será alterada de 3% para outro valor.

Isso influencia completamente a trajetória da Selic.

Se a meta subir, teoricamente o BC poderia reduzir mais os juros, uma vez que o seu modelo poderia aceitar uma inflação maior.

Teoricamente...

Mas, na prática, uma alteração da meta de inflação poderia fazer com que o mercado começasse a duvidar da seriedade da própria política de metas de inflação.

“Caso a meta seja difícil de cumprir, é só mudar a meta.”

Esse tipo de mentalidade poderia fazer com que o mercado, ao contrário do que o governo gostaria, exigisse mais juros, e não menos. Afinal, haveria uma desancoragem das expectativas.

Quando as expectativas estão desancoradas em relação à meta, as taxas de juros para um mesmo patamar de inflação têm que ser maiores.

Por isso, a reunião do CMN é tão importante e todo o mercado financeiro está de olho nisso.

Lembrando que no início do governo Lula, alguns membros cogitaram alterar a meta de inflação para que o BC pudesse baixar os juros mais cedo.

A repercussão foi péssima, e o mercado começou rapidamente a precificar inflações mais altas para prazos mais longos no Brasil.

Recentemente, as declarações foram contrárias.

Vale o acompanhamento com lupa, pois um aumento nos juros de mercado poderia abortar toda a melhora recente da bolsa.  

Esse certamente não é o meu cenário-base, mas, sigo acompanhando de perto esse risco.

Recomendo que você também acompanhe por aí.