Desde sua implementação em 1996, a urna eletrônica revolucionou o processo eleitoral no Brasil, trazendo rapidez, segurança e transparência às eleições. O sistema foi desenvolvido e aprimorado ao longo dos anos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para garantir que cada voto seja registrado de forma precisa e inviolável. Mas, como exatamente funciona a urna eletrônica? E o que a torna tão segura, a ponto de nunca ter sido comprovada uma fraude ao longo de quase três décadas de uso?

O que é a urna eletrônica?

A urna eletrônica é um dispositivo desenvolvido especificamente para contabilizar os votos dos eleitores durante as eleições. Tecnicamente, ela é um microcomputador que funciona de maneira isolada, sem qualquer conexão à internet ou redes externas, o que elimina a possibilidade de ataques cibernéticos.

A urna é composta por dois terminais:

  • Terminal do mesário: é aqui que o mesário identifica o eleitor e habilita o equipamento para o voto. Esse terminal também pode realizar a verificação biométrica, caso o eleitor tenha o cadastro de suas impressões digitais.
  • Terminal do eleitor: o terminal onde o eleitor, após ser autorizado, insere os números de seus candidatos. Este terminal possui um teclado numérico e uma tela de cristal líquido, que exibe mensagens para orientar o processo de votação.

Como é o processo de votação?

O processo de votação na urna eletrônica é rápido e intuitivo, dividido em etapas simples que garantem a facilidade de uso por todos os eleitores:

  • Identificação do eleitor: ao chegar à seção eleitoral, o eleitor apresenta seu título de eleitor ou documento de identidade ao mesário. Em locais com identificação biométrica, o eleitor utiliza sua impressão digital para se autenticar.
  • Habilitação para o voto: uma vez autenticado, o eleitor é habilitado no terminal do mesário, e a urna eletrônica é liberada para receber os votos.
  • Registro do voto: o eleitor, então, se dirige ao terminal da urna eletrônica, onde insere o número dos candidatos de sua escolha para cada cargo em disputa (por exemplo, presidente, governador, deputado). Cada voto é confirmado individualmente e, após votar em todos os cargos, o eleitor finaliza a votação.
  • Apuração digital e segura: o voto é registrado eletronicamente de forma criptografada e embaralhada dentro da urna, garantindo o sigilo e impossibilitando a identificação de quem votou em quem. A urna grava apenas que o eleitor já votou, sem deixar rastros que permitam associar o voto ao eleitor.

Mecanismos de segurança da urna eletrônica

Ao longo dos anos, o TSE implementou diversas camadas de proteção que tornam o sistema quase impossível de ser fraudado. Esses mecanismos envolvem:

  • Isolamento total da internet: a urna eletrônica não possui qualquer tipo de conexão com redes de computadores ou a internet, o que impede ataques cibernéticos e tentativas de manipulação dos votos de forma remota. Ela funciona de maneira completamente isolada durante todo o processo eleitoral.
  • Criptografia e assinaturas digitais: todos os dados relacionados aos votos são protegidos por criptografia e assinaturas digitais. Isso significa que qualquer alteração nos arquivos seria imediatamente detectada, uma vez que os dados são conferidos contra os originais lacrados pelo TSE.
  • Auditorias constantes: a urna eletrônica passa por auditorias públicas, como os Testes Públicos de Segurança (TPS), nos quais especialistas são convidados a tentar encontrar vulnerabilidades no sistema. Desde que os testes foram iniciados, em 2009, nenhuma falha que comprometesse o resultado das eleições foi encontrada.
  • Múltiplas barreiras de proteção: o hardware da urna também é equipado com verificações internas que garantem que apenas o software oficial do TSE pode ser executado. Caso qualquer tentativa de adulteração seja detectada, a urna simplesmente para de funcionar.
  • Boletim de Urna (BU): ao fim da votação, cada urna imprime um Boletim de Urna, um documento que lista o número de votos recebidos por cada candidato naquela seção. Cópias desse boletim são afixadas em locais públicos e disponibilizadas para partidos políticos, permitindo uma conferência paralela dos resultados.

Processo de apuração: como os votos são contabilizados?

Depois que a votação é encerrada, o processo de apuração dos votos também é feito de forma totalmente segura:

  • Impressão do Boletim de Urna: assim que o pleito é encerrado, a urna eletrônica gera e imprime o Boletim de Urna (BU). Este documento apresenta o resultado daquela urna, com o total de votos para cada candidato e as abstenções.
  • Transferência dos votos: os votos armazenados digitalmente são transferidos para uma mídia criptografada (similar a um pendrive) e transportados para o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) responsável. O transporte pode ser feito tanto de maneira física quanto, em locais remotos, via satélite.
  • Totalização dos votos: os TREs recebem os dados das seções eleitorais e os transmitem para os servidores do TSE. Durante esse processo, todas as informações são verificadas por meio de assinaturas digitais para garantir que não houve alteração ou erro na transmissão dos votos. Em seguida, o TSE totaliza os resultados e divulga os números oficialmente.

A urna eletrônica é auditável?

Sim, a urna eletrônica é completamente auditável, o que é um dos principais argumentos contra as teorias de fraude. Existem várias formas de auditoria, tanto antes, durante quanto depois das eleições:

  • Testes de Integridade: uma auditoria que ocorre durante o dia da eleição, em que urnas selecionadas aleatoriamente passam por um processo de votação paralela, onde voluntários registram votos em cédulas de papel e, simultaneamente, os mesmos votos são registrados na urna. Ao final do processo, os resultados da urna eletrônica são comparados aos votos em papel para verificar se não houve divergência.
  • Cerimônia de Lacração: antes de cada eleição, uma cerimônia pública é realizada onde os sistemas são lacrados e assinados digitalmente na presença de representantes de partidos políticos, Ministério Público e outras entidades. Isso garante que o software utilizado nas urnas é exatamente o mesmo em todo o país.
  • Acesso ao código-fonte: desde 2002, o código-fonte dos programas utilizados nas urnas é disponibilizado para entidades fiscalizadoras, como partidos políticos e universidades, um ano antes das eleições. Assim, é possível garantir que o sistema está livre de falhas ou backdoors (portas de entrada para hackers).

Fraude é possível?

Embora existam muitos mitos em torno da segurança das urnas eletrônicas, até hoje nenhuma fraude foi comprovada. A ausência de conexão com redes externas, a criptografia e as auditorias regulares tornam o sistema extremamente seguro. Além disso, o TSE realiza simulações e testes com especialistas para garantir que o sistema esteja sempre atualizado e protegido contra novas ameaças.

Conclusão

A urna eletrônica brasileira é um marco tecnológico que trouxe mais eficiência, segurança e transparência ao processo eleitoral do país. Com diversas camadas de proteção, desde o isolamento da internet até auditorias públicas e sistemas avançados de criptografia, a urna eletrônica é considerada uma das mais seguras do mundo. O sistema continua a evoluir, mas seu compromisso com a integridade e a confidencialidade do voto permanece inabalável.