B3 hoje: por que a bolsa brasileira sobe?
Em qualquer movimentação de mercado, há sempre uma figura importante: o fluxo.
Com a bolsa subindo quase +20% em poucos dias, quem é o participante que tem movimentado a bolsa brasileira?
A resposta é: o gringo.
O gringo parece ter razões para estar otimista com o Brasil. A entrada de recursos estrangeiros no mercado de ações em 2023 é de cerca de R$ 13 bi e, nos últimos 12 meses, de R$ 12 bi.
Embora tenha sido dífcil separar ruído de sinal no mercado local no início de 2023 — considerando o risco político e fiscal —, os gringos aproveitaram para fazer a festa no mercado local.
O que eles estão enxergando?
Fluxo gringo no Brasil
O primeiro é que o investidor estrangeiro dá menos peso a ruídos locais. Entende que países emergentes sofrem dos mesmos males em termos de bagunças políticas, problemas fiscais, conflitos institucionais etc.
Segundo, o estrangeiro olha o Brasil em um contexto comparativo. A verdade é que já vínhamos de um processo de controle de inflação, caminhando na direção de ajustes na parte fiscal, mas ainda tinha um juro a mercado que estava altíssimo (prefixados de 10 anos a quase 14%) e muito acima de outros emergentes.
Além disso, carregamos valuations em empresas bastante baratas em um ambiente em que a economia ainda se mostra resiliente — mesmo na presença de juros tão altos
Nesse contexto, o Brasil ficou para trás. Enquanto a média emergente subiu +2% no primeiro trimestre do ano, a bolsa brasileira recuava cerca de -10% em meados de março.
Acredito que em vista das distorções de valuation vs. cenário do Brasil vs. Emergentes, o estrangeiro resolveu fazer uma alocação aqui e isso carregou a bolsa.
As motivações do investidor estrangeiro
Tudo indica que os motivos que estão atraindo os gringos são os mesmos que têm impulsionado o Ibovespa.
Essa tese é reforçada pelo que temos percebido: baixo fluxo dos investidores institucionais e de varejo enquanto o fluxo estrageiro segue forte.
Como os locais têm reduzido alocação em bolsa e o varejo ainda está fora da jogada, quem tem trazido mais fluxo para a bolsa é o gringo, e isso parece fazer preço.
Como a alocação histórica deles é muito baixa, teria lugar para preencher esse espaço, o que seria uma evolução significativa para a bolsa.
Estamos bem quando comparados aos nossos pares, ainda que hoje o valuation seja um pouco mais caro do que no passado.
A maré positiva vai continuar?
Não vejo grandes alterações. Como eu apontei, o investidor estrangeiro busca olhar menos detalhe e mais o geral (comparando com outros países).
Na margem, o que pode acontecer é que o ímpeto de compra pode ser menor com a bolsa 20% mais cara.
Em termos de política monetária, o Banco Central segue com seu plano de cortar juros entre agosto e setembro, com um espaço importante para reduzir o juro real, aliviar o custo financeiro para as empresas e reduzir o custo de capital.
Além do mais, o valuation aqui continua relativamente atrativo (ainda que mais caro que no passado). O país cresce, é produtor de commodities, juro alto, valuations convidativos… o espaço para alocação estrangeira segue válido.