Nord Insider

Nesta quarta-feira, 28, os índices futuros de Nova York operam em baixa devido às preocupações com a economia dos EUA. Na véspera, dirigentes do Federal Reserve (Fed) insistiram que ainda há trabalho a ser feito na luta contra a inflação.

Na agenda econômica, saem o Índice de Preços ao Produtor e os dados de emprego do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), ambos referentes a agosto. Nos Estados Unidos, destaques para os dados sobre os estoques no atacado de agosto, a atualização dos estoques de petróleo do país referentes à semana terminada em 23 de setembro e o leilão primário de Treasuries de sete anos.

Principais assuntos de hoje

  • BoE anuncia QE para tentar estabilizar mercados;
  • MRV (MRVE3): um novo capítulo de crescimento;
  • Localiza anuncia milhões em dividendos.

Banco de Inglaterra anuncia compra de dívida pública britânica para tentar estabilizar mercados


O Banco de Inglaterra (BoE) anunciou nesta quarta-feira, 28, que vai intervir para tentar acalmar os mercados por meio da compra de dívida pública britânica com prazos mais longos.

Segundo o The Wall Street Journal, o banco central pretende intervir e comprar obrigações "na escala que seja necessária" para "restaurar a ordem" nos mercados financeiros.

A relevância: em um passado recente, a Inglaterra, junto a outros países, havia anunciado uma política de vendas de títulos, ou aperto quantitativo (QT, na sigla em inglês), com o objetivo de reduzir o balanço e melhorar o fiscal.

Porém, conforme a Inglaterra vendia títulos públicos com a inflação agora em níveis elevados, além de outros problemas, as taxas de juros na Europa subiram muito.

Diante do cenário de aumento de juros que vem ocasionando piora do fiscal e desvalorização da moeda, o país passou a ver a necessidade de iniciar um programa de recompra de títulos, ou afrouxamento quantitativo (QE, na sigla em inglês).

Resumo: nesta quarta, o BoE anunciou o QE, ou seja, que voltará a recomprar os títulos de dívida pública britânica.

Segundo a analista e sócia-fundadora da Nord Research, Marilia Fontes, isso ocorre quando o mercado fica disfuncional.

“Quando as taxas de juros sobem muito, o mercado começa a ficar “apavorado” porque os títulos perdem muito valor. As taxas dos prefixados sobem e o valor dos títulos cai”, disse.

Além disso, os ativos de risco também perdem muito valor, como ações em bolsas de valores, que são mais sensíveis à taxa de juros.


MRV (MRVE3): um novo capítulo de crescimento no segundo semestre de 2022


As mudanças no programa habitacional “Casa Verde e Amarela (CVA)” animaram o setor imobiliário — com aumento dos limites das faixas de renda.

As principais beneficiadas são Tenda (TEND3), MRV (MRVE3), Plano & Plano (PLPL3), Direcional (DIRR3) e Cury (CURY3).

No entanto, entre as construtoras focadas no segmento de baixa renda, a MRV deve ser o grande destaque do período.  

O analista de ações da Nord Research, Victor Bueno, destacou que vê tendência de melhora na margem bruta da MRV.

“Com as mudanças benéficas no programa Casa Verde e Amarela e uma menor inflação no custo de construção (INCC), a empresa já começa a ver suas novas vendas com margem bruta de 27% — caminhando para retomar os patamares históricos de ~32%”, destacou.

Expectativas para o segundo semestre

Já foram implementadas três das quatro mudanças previstas para o programa Casa Vende e Amarela, são elas: (i) ajuste no teto das faixas de renda dos grupos 2 e 3, (ii) incremento do subsídio concedido às famílias elegíveis, e (iii) expansão do prazo máximo de financiamento de 30 para 35 anos.

Agora, está faltando uma espécie de consignado do FGTS (utilização dos 8% de FGTS depositados mensalmente para complementar o pagamento das parcelas mensais) e que deve ser implementado no 4T22.

Bueno aponta que as mudanças no programa habitacional estão contribuindo para uma aceleração da demanda na indústria da construção, que está sendo utilizada como motor para uma maior precificação no 3T22.

“A tendência é que o movimento continue no último trimestre do ano (4T22), mas a MRV também enxerga espaço para aumentar o seu volume de vendas no período”, disse.

Segundo a MRV, o segundo semestre será “marcado por um maior número de lançamentos, mas que terão uma maior concentração no 4T22”.

Governo e subsídio


Ainda sobre o CVA, nossa analista destaca que a construtora mineira não enxerga que uma mudança de governo poderá trazer grandes impactos de curto prazo no programa.

“Tudo indica que a demanda deve seguir aumentando no próximo ano e a expectativa da empresa é que a operação continue forte, com mais vendas — essa perspectiva também vale para o média renda (Sensia), que possui um público mais estável”, comentou.

Planos para a incorporadora nos EUA


Sobre sua subsidiária americana Resia (antiga AHS), ainda que os juros no país estejam aumentando, vemos que o mercado multifamily segue bastante aquecido no Sul dos EUA.

A companhia mantém seu plano de negócios de construir e vender em torno de 12 mil unidades anuais.

É importante mencionar que, embora a MRV não tenha divulgado mais detalhes, a companhia está buscando um grande investidor para sustentar o plano de crescimento da Resia nos próximos anos.

Acreditamos que, em breve, a companhia deve trazer novidades sobre o assunto.

Em relação às outras subsidiárias, sem grandes novidades.

Nosso analista diz que a Luggo já possui todo o seu portfólio (até 2024) vendido para a canadense Brookfield, enquanto a Urba deve novamente dobrar de tamanho em 2022.

Além disso, a Urba possui uma grande visibilidade de crescimento no longo prazo no segmento de loteamentos, que ainda é muito fragmentado e sem outros grandes players atuando.

A ação mais alugada da bolsa brasileira


Com uma maior visibilidade para o seu principal negócio daqui para frente, além da manutenção das expectativas para as suas subsidiárias, as ações da MRV vêm apresentando fortes altas desde o final de julho, com valorização de +60% no período — mas que chegou próxima de +80% na última semana.

Valorização, inclusive, que foi quase o triplo da apresentada pelo índice imobiliário brasileiro (IMOB), que é composto por 19 empresas do setor — sendo 12 construtoras e as demais de shoppings/properties.

Gráfico apresenta MRVE3 x IMOB.
MRVE3 x IMOB. Fonte: Bloomberg 

Na nossa visão, essa movimentação poderia ser ainda mais expressiva se não fosse o alto número de ações alugadas no setor de construção civil.

Das maiores posições vendidas na B3, estão grandes construtoras e incorporadoras, como a própria MRV, que possui 19,5% de suas ações alugadas e vendidas a descoberto.

Além da construtora mineira, o ranking ainda possui empresas como Cyrela (CYRE3), com 14,4% de seus papéis alugados, Eztec (EZTC3) com 12,8%, e Trisul (TRIS3), com 12,7%.

Os números mostram que o mercado “aposta” contra o setor e não enxerga visibilidade de curto prazo para essas empresas.

Porém, como dito anteriormente, as mudanças no programa CVA podem trazer grandes benefícios para as construtoras de baixa renda ainda em 2022, principalmente para a MRV, que possui uma maior diversificação de suas fontes de receita.

A tendência, segundo o nosso analista, é que o número de ações alugadas da MRV diminua nos próximos meses.

Devido ao valuation atrativo e fundamentos robustos de longo prazo, além do foco no topo do programa CVA, mantemos a MRV como nossa preferência no setor.

Localiza (RENT3) anuncia emissão de novas ações e milhões em dividendos


A Localiza (RENT3), maior locadora de veículos das Américas, anunciou na segunda-feira, 27, um aumento de capital via subscrição privada e o pagamento de juros sobre capital próprio (JCP).

A empresa reduziu o valor de subscrição de R$ 55 para R$ 50,35 e elevou a entrega de novas ações de 0,0027 para 0,0030 por papel.

Esse valor representa um desconto de 20% com base no preço médio ponderado por volume das ações nos pregões entre os dias 11 de agosto e 22 de setembro.

O prazo para exercício de preferência é entre os dias 29 de setembro e 31 de outubro. As ações da Localiza passam a ser negociadas “ex-subscrição” em 29 de setembro.

Estratégia de remuneração

No mesmo comunicado, a  empresa também anunciou que vai distribuir R$ 346,2 milhões em juros sobre capital próprio (JCP) em 09 de novembro.

O valor representa R$ 0,29 por ação – já descontada a taxa de 15% do Imposto de Renda retido na fonte. Para acionistas isentos da cobrança, cada papel equivale a R$ 0,35.

Segundo a analista de ações da Nord Research, Danielle Lopes, o JCP é vantajoso para ambos os lados, empresa e acionista.

“Do ponto de vista do acionista, é vantajoso porque ele recebe os proventos. Do ponto de vista da empresa, é interessante como instrumento fiscal. Quanto mais lucros ela distribuir na forma de JCP, menos imposto ela paga, já que o Imposto de Renda passa a incidir sobre um valor menor”, explica.

O pulo do gato.

Com a incorporação da Unidas concluída em julho, o patrimônio líquido da Localiza aumentou.

O cálculo dos juros sobre capital próprio é feito pela aplicação da TJLP sobre o patrimônio. Em termos contábeis, esse pagamento é tratado como uma despesa financeira.

Portanto, para a companhia, haverá uma economia da alíquota dos impostos e contribuições sociais.

Logo, esse valor “volta” para o caixa da companhia na forma de economia tributária.

Dividendo da Movida

A Localiza não é a única a agraciar os investidores com a distribuição milionária de dividendos.

A Movida (MOVI3) informou que distribuirá R$ 55 milhões em juros sobre o capital próprio (JCP) para seus acionistas.

Segundo a empresa, o valor corresponde a R$ 0,15 por ação, sem considerar a cobrança de Imposto de Renda.

Terá direito a receber a remuneração o investidor que possuir papéis da Movida no dia 30 de setembro deste ano, próxima sexta-feira.

O pagamento será realizado no dia 6 de janeiro de 2023.

Nossa preferência

Embora o dividendo de Movida seja menor que o de Localiza, nossa preferência no setor não é óbvia.

“A Localiza é um colosso, muito maior do que a Movida no segmento de locação de veículos, identificado como RAC (rent-a-car) — a frota é mais do que o dobro da concorrente. Não tem como comparar em tamanho, mas podemos comparar a produtividade”, disse Lopes.

A analista aponta que Localiza é gigante na praça de aluguel de veículos, mas que a Movida é eficiente no segmento de Gestão e Terceirização de Frotas (GTF).

“Esse é um ponto positivo porque os contratos GTF são de longo prazo, pelo menos cinco, trazendo previsibilidade para o negócio, além de serem mais rentáveis”, pontuou.

Outra frente de negócios que tem contribuído para o crescimento da companhia é o Movida Zero Km, um serviço de assinatura anual de carros.

“Atuando no mesmo setor, com praticamente os mesmos serviços, não justifica vermos Movida sendo negociada a 5 vezes lucros, com um crescimento médio de 90% de lucros nos últimos 5 anos, e Localiza negociando a 23 vezes lucros, com um crescimento médio de 39% de lucros nos últimos 5 anos”, afirmou.

Fonte: Bloomberg

Pechincha na bolsa!

Apesar das boas avaliações do negócio, preocupações com juros mais altos e os preços de veículos novos pesaram sobre as ações da Movida, os papéis da locadora acumulam queda de -9,37% na bolsa de valores no mês de setembro e queda de -17,51% no ano.

“As ações estão caindo porque estamos em um pico de juros muito alto (+13,75% atual). Locadoras são negócios que consomem o CDI. Como no curto prazo não teremos grandes mudanças nos juros, isso prejudica o pagamento das despesas com dívidas feitas para continuarem se financiando e crescendo”

Outro receio de curto prazo é sobre os preços dos carros usados e seminovos. No entanto, a Movida tem conseguido vender seminovos acima do preço de compra.

No passado, entre 2017 e 2018, a Movida pagou caro por não saber quando comprar e quando vender os veículos da frota, mas esse erro já foi ajustado.

Apesar do mercado pessimista, mantemos nossas expectativas e recomendação de compra para as ações da MOVI3, pois o crescimento não está refletido nos múltiplos.


Meme do dia

“Eu vou continuar subindo os juros até que vocês parem de traidar jpegs de macacos”.