A Argentina alcançou um marco importante no terceiro trimestre de 2024, registrando um crescimento de 3,9% no Produto Interno Bruto (PIB). Este resultado sinaliza o fim de uma recessão que se arrastava desde o final de 2023. 

Sob o governo de Javier Milei, medidas econômicas focadas em austeridade e reformas impulsionaram setores estratégicos, como agricultura e mineração, apesar de desafios sociais significativos.

O que impulsionou a recuperação da Argentina?

Os números positivos no terceiro trimestre foram principalmente alavancados por setores estratégicos, como:

  • Agricultura: após anos de secas, a recuperação das safras de soja e milho ajudou a impulsionar as exportações.
  • Mineração: a alta demanda global por lítio, um mineral crucial para a transição energética, fortaleceu as exportações argentinas.
  • Investimentos internos: houve um aumento em áreas como infraestrutura e energia, ajudando a mitigar os impactos das políticas de austeridade.

Apesar do crescimento, setores como construção e manufatura continuam estagnados. 

Índice Merval

O índice Merval, principal índice da Bolsa de Valores da Argentina, que atualmente é chamada de Bolsa e Mercados Argentinos (BYMA), que mede o desempenho das ações das empresas mais representativas do mercado de capitais argentino, valorizou +119% contra +1,38% do Ibovespa em dólar, desde o início do governo Milei.

Desempenho do Índice Merval (linha branca) comparado ao Ibovespa (linha azul) em dólares. Fonte: Bloomberg

A queda abrupta do Merval em dezembro de 2023 foi causada, principalmente, pela desvalorização do peso argentino e pelo impacto inicial das políticas de austeridade anunciadas pelo novo governo. 

Assim que o mercado assimilou as medidas de Milei e passou a demonstrar confiança no potencial de recuperação da economia argentina, o índice seguiu em forte alta desde então.

O que Milei fez para a economia argentina?

Desde o início de seu mandato, Javier Milei implementou medidas severas para combater a hiperinflação e equilibrar o orçamento público, incluindo:

  • Cortes de subsídios: isso resultou em aumentos nos preços de serviços básicos.
  • Desregulamentação econômica: reformas para atrair investidores estrangeiros.
  • Desvalorização do peso: com impactos mistos sobre o custo de vida e competitividade das exportações.

Essas medidas reduziram a inflação, mas agravaram a pobreza, que atinge 53% da população, e o desemprego, que superou 7%. As medidas agressivas de Milei vieram em resposta ao declínio econômico do país. O desafio daqui para frente será balancear isso.

Quem é mais rico, Brasil ou Argentina?

Atualmente, embora o Brasil tenha uma economia total maior, a renda média por pessoa é mais elevada na Argentina. O PIB per capita brasileiro em 2023 foi de aproximadamente US$ 9.032,11 e o PIB per capita argentino foi de cerca de US$ 12.625,47.

Quanto é a inflação da Argentina?

No atual governo de Milei, a inflação Argentina saiu de mais de 25% ao mês para 2,40% ao mês, com o último dado fornecido.

Trajetória da inflação mensal na Argentina. Fonte: Bloomberg

No Brasil, a inflação se encontra em 4,87% no acumulado dos últimos 12 meses, com uma inflação mensal de 0,39%, segundo a última divulgação.

Como será a economia da Argentina em 2025?

A perspectiva para 2025 é de crescimento de 5,2% do PIB. Contudo, especialistas apontam desafios para transformar essa recuperação inicial em crescimento sustentável:

  • Abertura cambial: a necessidade de flexibilizar os controles de câmbio e atrair mais investimento estrangeiro.
  • Recuperação desigual: setores como agricultura e mineração se beneficiam, enquanto outros permanecem em crise.
  • Impacto social: as disparidades econômicas podem intensificar tensões sociais e políticas.

O governo Milei enfrenta o desafio de equilibrar medidas econômicas eficazes com a mitigação de impactos sociais. O que o levou até o momento ao crescimento não terá necessariamente os mesmos impactos no futuro.

Quem vai crescer mais: Brasil ou Argentina?

Até o momento, as previsões econômicas para 2025 indicam que a Argentina deverá apresentar um crescimento mais robusto do PIB em comparação ao Brasil, de 5% em média contra uma média de 2% para o Brasil.

No Brasil, a inflação elevada tem pressionado o Banco Central a aumentar a taxa Selic, com previsões de elevações de 1 ponto percentual nas reuniões de dezembro de 2024 e janeiro de 2025, visando conter a alta dos preços.

Na Argentina, ainda vemos uma das maiores taxas de inflação do mundo, com médias anuais superiores a 50% na última década, afetando o poder de compra da população e a estabilidade econômica.

Para ambos os países, a implementação de reformas estruturais é crucial. No Brasil, a reforma tributária e a administrativa são essenciais para melhorar o ambiente de negócios e controlar a dívida pública. Na Argentina, políticas que combatam a inflação, reduzam o déficit fiscal e diversifiquem a economia são fundamentais para alcançar a estabilidade econômica e promover o crescimento sustentável.

O Brasil vai virar uma Argentina (antes do Milei)?

Apesar do conglomerado de notícias econômicas difíceis para o Brasil (dólar acima de R$ 6, juros reais elevados), imaginar que o Brasil está a caminho de se tornar uma nova Argentina é uma simplificação que não considera as diferenças estruturais e contextuais entre os dois países.

É correto afirmar que a economia brasileira estaria em uma estabilidade razoável se não houvesse pressões exageradas em gastos econômicos, que deverão ser revisados o mais rápido possível para estancar o sangramento do mercado. A crise não era econômica, se tornou apenas por movimentos políticos.

É necessário ligar o modo restrição imediata, pois o jogo é recuperar a confiança do mercado, e retomar os rumos da economia.

Como investir na Argentina?

A forma mais simples de investimentos em nossos países é via ETFs como o “ARGT”, que está disponível em corretoras que oferecem acesso ao mercado internacional. Algumas empresas argentinas possuem ADRs, negociadas em bolsa americana. Esse ETF não está em nossa lista de recomendações atualmente.

É importante levar em consideração que o índice contempla apenas as ações mais líquidas do mercado argentino, que possui atualmente cerca de 28 empresas, com uma alta concentração em Mercado Livre (~19%), empresas do setor de energia (~15%) e instituições financeiras (~13%).