GOLL4: o pior ainda não passou. Comprar ou vender?

Possível pedido de recuperação judicial da Gol nos EUA é oportunidade para Azul (AZUL4), Embraer (EMBR3) ou CVC (CVCB3)?

Danielle Lopes 16/01/2024 10:08 8 min Atualizado em: 17/01/2024 10:02
GOLL4: o pior ainda não passou. Comprar ou vender?

A maldição das aéreas

O setor de aviação parece, de certa forma, amaldiçoado.

O final de todas as empresas é semelhante: fusões buscando sobrevivência, aquisições (por parte de terceiros) para tentar salvar alguma massa falida, entrar em RJ para aliviar dívidas com credores, viver de subsídio ou até mesmo uma invertida do governo paralisando suas operações…

A novidade da vez é a Gol (GOLL4), que avalia a possibilidade de pedir recuperação judicial (RJ) nos Estados Unidos, diante de uma obrigação financeira de R$ 20 bilhões, sendo R$ 3 bilhões a vencer no curto prazo (em até 12 meses). O caixa da companhia junto às suas aplicações financeiras não chega a R$ 1 bilhão.

Manchete do Valor diz 'Gol cogita inicial processo de RJ nos EUA'.
 Fonte: Valor Econômico

O mercado esperava uma movimentação da companhia para lidar com as dívidas altas demais, mas a notícia inesperada de uma RJ no exterior sacudiu o mercado e fez os investidores verem suas ações caírem -6,05% no pregão de segunda-feira, 15.

Histórico de lucro e prejuízo da Gol.
 Fonte: Bloomberg

A oscilação das cotações assusta, mas olhando para o histórico de resultados (e, por consequência, para as ações), o que é uma queda de -6% para quem amarga duras quedas nos resultados e nas cotações da companhia nos últimos 15 anos?

Academia de Falência das Aéreas. Uma nova “AFA”?

Nunca pensamos que as aéreas poderiam ser um bom investimento.

Reforçamos essa visão em várias newsletters, como nesta, nesta e nesta. Em resumo: fique bem longe de companhias aéreas

Seu passado, presente e, possivelmente, “futuro” (se houver um) nos mostram isso.

Com um rápido flashback, entendemos por que as aéreas são um investimento tão temido pelo mercado (e principalmente por nós). 

  • Varig: Com enormes prejuízos desde 1990, por conta do aumento da competição no setor (entrada da Gol), entrou em RJ em 2005 e faliu em 2010.
  • Vasp: Da estatização à privatização, a companhia se envolveu em um plano ambicioso de forte crescimento, mas não foi capaz de seguir com os resultados e deixou de honrar pagamentos. Em 2005, suas operações foram cassadas e ficou impedida de voar. Faliu em 2008.
  • Transbrasil: Responsável pelo transporte de carne fresca entre SC e SP, adquirida pela Sadia (será a “maldição da Sadia?”) em 1961, com a crise de 1980 e o setor sem crescimento, arrastou-se até a sua falência, em 2001.
  • Avianca Brasil: Com um acúmulo de dívidas desde a crise de 2018, a companhia decretou falência em 2020.
  • Webjet: Criada em 2004 por executivos do mercado financeiro, foi comprada pela CVC em 2007, pela Gol em 2011, e encerrada em 2012.
  • BRA: Fundada em 1999, já atingiu cerca de 5% do mercado doméstico, mas solicitou a suspensão de todos os seus voos em 2007. Está em RJ atualmente.
  • Cruzeiro: Uma das companhias mais importantes da década de 1940, faliu pela competição de Varig, Transbrasil e Vasp. O que sobrou da empresa foi vendido para a Varig em 1975.
  • Panair: Uma das primeiras companhias aéreas do Brasil, muito famosa nas décadas de 1930 a 1950, tentou ser incorporada pela Varig, mas quebrou quando o governo, em 1965, decretou a suspensão das operações da empresa.
  • Real Aerovias: Alcançou a marca de maior companhia aérea do Brasil em 1945, sendo a sétima maior frota do mundo. Em 1961, foi comprada pela Varig.
  • Itapemirim Transportes Aéreos: O grupo já se encontrava em recuperação judicial desde 2016, entretanto, por ambição sobrenatural, lançaram a companhia aérea em maio de 2021, que deixou consumidores sem voos logo em dezembro de 2021, além de atrasar pagamentos dos funcionários. A empresa decretou falência oficialmente em 2022.
  • Latam: Fortemente impactada pela pandemia, a companhia entrou em recuperação judicial em 2020 e se reestruturou. Ela saiu oficialmente da RJ em novembro de 2022.
  • Gol
  •  …

Essa lista poderia ser extensa, mas ficou bastante claro que o destino das aéreas é sempre o mesmo ou algo semelhante a isso.

O que esperar das ações da Gol?

No momento, parece que a Gol buscará os mesmos caminhos da Latam, quando pediu recuperação judicial em 2020.

O maior temor nesse caso é que a Gol consiga as mesmas condições que a Latam na época: não pedir RJ no Brasil, mas incluir as dívidas brasileiras na corte americana.

Se isso realmente acontecer, pendências trabalhistas de consumidores e outros créditos bancários e de fornecedores podem ser suspensos ou até mesmo não serem pagos.

As notícias, mesmo que melhores, não são nem um pouco boas para os acionistas minoritários.

No início do processo de RJ da Latam, a companhia tinha cerca de US$ 18 bilhões em dívidas, e saiu da RJ, ao final de 2022, com as dívidas 35% menores, aporte extra por três fundos credores e diluição dos acionistas minoritários.

Seguindo os mesmos passos, Gol imagina que o processo de recuperação judicial fora do país seja mais rápido, além de oferecer melhores condições de financiamento e negociações de longo prazo.

Gol já foi um bom investimento?

Ao compararmos os resultados com os de sua concorrente mais próxima, listada em bolsa, a Azul (AZUL4), vemos o mesmo comportamento nas duas áreas: uma enorme tragédia.

Histórico de prejuízo da Azul e Gol desde 2014.
 Fonte: Bloomberg

Observando apenas o histórico de lucro líquido dos últimos 10 anos, em que temos 10 anos completos para Gol e 6 anos para Azul, vemos que ambas transitam mais em patamares de prejuízo do que lucro.

Houve um lucro em pouquíssimo tempo de história nas áreas, o que gera uma enorme consequência de endividamento elevado na tentativa de manter a operação funcionando, e a continuidade do prejuízo com as operações fracas. É um círculo vicioso de resultados ruins.

Não conseguimos analisar indicadores das companhias em vista do enorme histórico de prejuízo, que afeta o histórico de preço/lucro das ações, bem como ROE, que poderá ficar positivo, já que o lucro líquido será negativo e, com isso, o patrimônio das companhias também ficará no prejuízo.

Por isso, muito cuidado ao analisar indicadores isoladamente.

CVC e Embraer são bons investimentos?

Das empresas correlacionadas, como CVC (CVCB3), o que pareceu uma tempestade perfeita no passado (encerramento Avianca Brasil, desvalorização cambial, derramamento de óleo nas praias do Nordeste) acabou se tornando um pesadelo ainda maior para a companhia, que já entregava resultados ruins antes da pandemia e até hoje está com dificuldades para entregar bons resultados.

Após inúmeras diluições para os acionistas e plano de crescimento furado, não temos nenhuma confiança nas ações da CVC.

Embraer (EMBR3), por outro lado, nos admira pela capacidade de um modelo de negócio tão inteligente, com tecnologia magnificente, que amarga um histórico de prejuízo decepcionante para o investidor, semelhante ao das aéreas.

Histórico de lucro líquido Embraer e CVC.
Fonte: Bloomberg

Fique de fora de CVC e Embraer.

Um setor fadado ao fracasso

O setor de aviação é altamente sensível a eventos externos, como a pandemia, que fez o governo liberar enormes volumes de dinheiro para ajudar o setor a (minimamente) “parar em pé”, além do alto impacto nas flutuações do preço do petróleo (combustível é um dos maiores custos operacionais).

Os custos da companhia cresceram em média +20% após todos esses fatores e a sua receita não acompanhou. 

Além disso, o setor tem enfrentado uma enorme competição nos últimos anos. No final, todas competem apenas para sobreviver, e não para crescer.

No caso da Gol, a combinação da pandemia, disparada nos preços de petróleo e dólar em alta pesou excessivamente em seus custos. Com receitas majoritariamente em reais e competição crescendo, as dívidas aumentaram. 

Não nos assusta saber que o final da empresa será o mesmo de muitas outras do setor, mas nos preocupam os impactos nos investidores minoritários, a ausência de uma boa análise dos resultados, do setor e das complicações futuras.

Nord Ações e as empresas aéreas

Sou responsável pelo Nord Ações, e dentro da carteira busco oportunidades na bolsa brasileira para que meus assinantes possam comprar e dormir sossegados, o tal “teste do travesseiro”. 

Você precisa ter uma empresa e continuar tranquilo quando o mercado estiver em desespero, dormir bem à noite, saber que os negócios continuam funcionando, crescendo, e que as quedas são oportunidades, liquidações daquela “roupa” que você tanto queria…

Já imaginou a liquidação de um iPhone? iPhone pela metade do preço?

Quem não aproveitaria?

Quando olhar para a minha carteira, quero que você sinta uma vontade enorme de achar mais dinheiro para comprar mais ações.

Não queremos acertar o timing das aéreas, o momento em que o mercado mais bateu nas empresas e tentar ganhar +15%, +20% em algum trade curto

Isso nos parece surreal, colocar seu dinheiro em risco para algo que não tem fundamento.

No Nord Ações, nossa cabeça é completamente diferente e ficamos bastante satisfeitos com uma rentabilidade acima do nosso benchmark (IBOV).

Em 2023, ganhamos +29% contra +22% do índice, mas ficamos mais felizes ainda quando somos capazes de deixar você bem longe das armadilhas da Bolsa.

Empresas aéreas são armadilhas da bolsa

As aéreas acumulam uma história de grande tristeza e desastre para seus negócios e seus acionistas, e queremos que nossos investidores possam ficar felizes com suas carteiras, mas muito mais felizes por escapar das problemáticas da bolsa.

Os credores da Gol, vislumbrando o triste fim dessa RJ, preferem que tudo seja feito no exterior para “arrancar de vez o band-aid”, já que as normas nos EUA são muito mais claras do que aqui.

No Brasil, a RJ começaria, mas jamais teria um prazo para acabar.

Entre muita dor e sofrimento, é melhor que a companhia decrete falência caso seja comprovado que não há outra alternativa. 

Mas ainda não há certeza da RJ, dado que a aprovação depende da corte americana, que vai avaliar se faz sentido que uma empresa com resultados majoritariamente em reais consiga fazer o mesmo que foi feito na Latam (que possuía a maior parte dos resultados no mercado internacional).

Vamos acompanhar o desenrolar da Gol e usar esse case de exemplo para o nosso maior alerta. Cuidado com o seu rico dinheirinho.

Qualquer que seja a promessa de crescimento ou plano ambicioso das aéreas, ficamos sempre de fora e reforçamos que você, investidor, faça o mesmo.

Conte conosco para trazer proteção e rentabilidade ao seu patrimônio, principalmente para te orientar a fugir das armadilhas da bolsa.

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