A síndrome da jujuba
A irracionalidade em nosso comportamento
Os psicólogos Seymour Epstein e Veronika Denes-Raj, do MIT, fizeram um estudo que demonstra que podemos tomar decisões irracionais conscientes – se nos sentirmos melhores com elas.
No experimento, os participantes precisavam escolher entre dois recipientes. O menor deles continha 10 jujubas, das quais 9 eram brancas e 1 era vermelha sempre. O recipiente maior continha 100 jujubas, das quais 91 e 95 jujubas eram brancas e o resto vermelhas.
Existia uma recompensa financeira para aqueles que conseguiam retirar (sem olhar) uma jujuba vermelha de qualquer um dos recipientes. Antes da escolha do recipiente, os pesquisadores alertavam os participantes de que as jujubas vermelhas representavam 10 por cento do recipiente menor e não mais do que 9 por cento do recipiente maior.
Qual foi o recipiente mais escolhido?
Qualquer um utilizando apenas a racionalidade sempre escolheria o menor, que oferecia uma chance de sucesso maior e constante. Contudo, quase ⅔ dos participantes preferiram o maior quando ele continha 9 por cento de jujubas vermelhas.
Mesmo quando o recipiente maior continha apenas 5 por cento de jujubas vermelhas, quase ¼ dos participantes ainda o escolhia, ignorando completamente a lógica e as probabilidades.
As justificativas dadas aos pesquisadores eram:
“Eu escolhi o recipiente com o maior número de jujubas vermelhas.”
“Senti que havia mais chances de acertar, mesmo sabendo que também continha mais jujubas brancas e que as probabilidades estavam contra mim.”
Os participantes tinham consciência da irracionalidade do seu comportamento. Apesar de saber que a probabilidade os desfavorecia no recipiente maior, eles sentiam que teriam uma chance maior quando havia mais jujubas vermelhas.
Desde então, esse tipo de comportamento ficou conhecido como a síndrome da jujuba.
A cegueira do denominador
O termo técnico para a síndrome da jujuba é a cegueira do denominador. Frações são representadas por:
numerador/denominador
No mundo dos investimentos, existe uma fração que divide seu ganho ou perda pelo seu patrimônio total. O numerador flutua constantemente, variando largamente em magnitude e direção, enquanto o denominador varia muito mais gradualmente ao decorrer do tempo.
Vamos supor que você tenha um patrimônio de 200 mil reais investidos e que sua carteira não oscilou em nada ontem. Se suas ações se valorizaram +1 mil hoje, o numerador da equação vai de zero para mil, enquanto o denominador vai de 200 mil para 201 mil.
O salto no numerador é excitante e vívido, já o movimento no denominador quase não é percebido. Porém, somente o denominador importa. O seu patrimônio total é um número muito mais importante do que o quanto ele subiu ou caiu em um dia específico. Ainda assim, muitos investidores têm uma fixação com o número que varia mais, dando menos relevância ao número muito maior e que significa muito mais.
Em outro estudo, o psicólogo Paul Andreassen simulou mercados de ações em seus laboratórios nas universidades de Columbia e Harvard. Para um grupo de investidores, ele mostrava apenas o nível dos preços das ações, para o outro, ele mostrava apenas a variação nos preços das ações.
Os resultados mostraram que os investidores que focavam nos níveis de preços ganharam entre 5 e 10 vezes mais do que aqueles que prestavam atenção às variações dos preços.
Isso ocorreu porque os investidores que olhavam para as variações de preços “tradavam” (operavam) demais, tentando lucrar com as flutuações do mercado, enquanto aqueles que olhavam para os níveis de preços estavam mais propensos a segurar seus investimentos por prazos maiores.
Sentimentos são perigosos
O aprendizado que podemos tirar desses dois experimentos é o de que focar nos seus sentimentos em relação ao mercado tende a te fazer tomar decisões piores.
Olhar para a flutuação das cotações de suas ações diariamente, por exemplo, pode induzi-lo a sentir que algo está mudando diariamente nas empresas que você investe ou que você precisa fazer mais movimentos para ganhar mais dinheiro.
Mas a realidade da Bolsa é outra, praticamente oposta a isso. Ao investir em ações, menos (movimentações) costuma resultar em mais (resultados).
Ações não são apenas tickers que piscam freneticamente em uma tela e que podem ter seu comportamento previsto de acordo com movimentações passadas, ações são pequenas partes de empresas que, no longo prazo, vão caminhar na direção dos lucros das mesmas.
Ao adquirir o hábito de olhar para as flutuações de suas ações diariamente, você está tomando uma decisão que, na melhor das hipóteses, não te afeta e, na pior das hipóteses (em um dia que você não está bem, por exemplo), pode induzi-lo a uma tomada de decisão ruim ou fazer você se sentir pior ainda. Você não tem nada a ganhar e muito a perder.