3 pontos para entender a crise do varejo

Renner, Marisa e Tok&Stok estão entre as varejistas que estão fechando lojas. A crise de crédito é um dos motivos que explica o atual cenário das varejistas

Rafael Ragazi 19/05/2023 15:43 4 min
3 pontos para entender a crise do varejo

Após Lojas Renner (LREN3), Marisa (AMAR3), Tok&Stok e Camicado anunciarem o fechamento de algumas lojas físicas, a Guararapes (GUAR3), dona da Riachuelo, fechou a sua loja conceito na rua Oscar Freire, nos Jardins, região nobre de São Paulo.

Americanas, Marisa e Magalu em dificuldade financeira

A Americanas (AMER3), com R$ 48 bilhões em dívidas, foi à recuperação judicial após não ter tido sucesso nas negociações com cerca de 16,3 mil credores.

Pouco depois do rombo contábil da Americanas, foi a vez da varejista Marisa (AMAR3) informar R$ 566 milhões em dívida líquida. Depois do balanço do 1T23, a varejista, que está em processo de reestruturação de dívidas, confirmou que pretende fechar 91 lojas este ano.

E, para piorar o clima, o Magazine Luiza (MGLU3) reportou prejuízo de R$ 391 milhões no 1T23. É o maior prejuízo da varejista desde o IPO (em 2011).

Por que tantas varejistas estão em crise?

A restrição ao crédito por parte dos bancos (o movimento foi antecipado pelo evento Americanas) e a manutenção dos juros elevados pelo Banco Central do Brasil ampliaram as dificuldades para as companhias de varejo.

Listamos três pontos para explicar a crise do varejo no Brasil.

1. Crise de crédito

Com a alta dos juros, inflação elevada, desaceleração da atividade econômica, empresas nacionais e bancos estrangeiros com dificuldades financeiras, é grande o temor de que o Brasil enfrente uma crise de crédito.

Apesar de que ainda não podemos caracterizar uma crise, há, de fato, uma desaceleração no crédito e um aumento na inadimplência reportada pelos bancos.

Os bancos estão segurando as concessões em linhas de maior risco. Uma das linhas mais afetadas é a do risco sacado, utilizado por varejistas para financiar o pagamento a fornecedores, tipo de operação na qual a Americanas revelou inconsistências contábeis.

O volume de dívidas emitidas pelas empresas no mercado de capitais também caiu consideravelmente, o encarecimento no custo dos empréstimos é um dos principais fatores que explicam a retração.

Os altos juros e o elevado nível de alavancagem das varejistas também acarretam maiores despesas financeiras, que pressionam os lucros das empresas e aumentam o risco de uma geração de caixa negativa.

2. Inflação

As restrições no crédito também afetam o poder de compra dos consumidores das varejistas, que já estava pressionado por conta da elevada inflação.

Com a economia patinando, os consumidores postergam as decisões de compra de bens discricionários e as varejistas acabam sofrendo com uma receita negativamente impactada.

O cenário de inflação elevada combinado com o poder de compra reduzido pressiona as margens das empresas, que precisam lidar com custos mais altos em um cenário de baixo poder de repasse de custos.

3. Concorrência

Para completar o pacote, as varejistas ainda estão tendo que lidar com a concorrência de grandes grupos internacionais (Mercado Livre e Amazon) e a concorrência quase que desleal dos grandes grupos chineses (Shein, Shopee, AliExpress).

Com bastante agressividade nos preços e prazos de entregas, Mercado Livre e Amazon são uma pedra no sapato de empresas como Magalu e Americanas. Já as varejistas de moda (Renner, Guararapes, C&A e Marisa) sofrem com a falta de impostos na Shein (governo estuda como taxá-la no momento).

As crises também geram oportunidades

Mas todo o varejo está sofrendo? Não, é claro que não. No setor, a Vivara (VIVA3) apresentou resultados sólidos no 1T23, com crescimento de receita e EBITDA.

Em nossa opinião, Vivara é uma empresa com rentabilidade alta e resiliente, possui um robusto plano de expansão orgânico e provou que consegue continuar crescendo e ganhando market share, mesmo em um cenário adverso.

Negociando a apenas 12x Ebitda, reforçamos nossa recomendação de compra do papel.

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