Fundo com prazo de resgate longo é furada?

Os fundos de investimento voltaram para o radar do investidor em 2021 e, nessa semana, na série Nord Fundos, o analista de fundos Luiz Felippo conversou com os assinantes sobre prazo de resgate.

O tema gerou uma repercussão positiva no grupo Nord Fundos e decidimos trazer, de forma rápida, os principais touchpoints para você.

Vai lá, Luiz, é contigo!

Por que existe prazo de resgate?

Opa, pessoal, um prazer sempre vir conversar com vocês novamente.

Em teoria, o prazo de resgate dos fundos é simplesmente uma forma de proteger o cotista que deseja permanecer no fundo, enquanto outros estão saindo.

Em geral, os fundos possuem prazo de resgate de 30 dias ou mais, a depender da liquidez dos ativos da carteira. Esse é o tempo necessário para que o gestor se desfaça das posições do fundo com tranquilidade e honre o compromisso de pagamento aos cotistas.

Ao tratarmos desse jeito, não ocorrem transferências de riqueza entre as partes que desejam permanecer ou deixar o fundo.

Qual a importância do prazo de resgate?

Imagine um mundo hipotético onde não houvesse essa regra, ou seja, o gestor precisaria pagar o cotista no dia seguinte (retirando aqui até o tempo da própria BM&F da conta).

Agora, suponha que metade dos cotistas pede resgate de um fundo de ações.

O que aconteceria?

No momento em que o pedido de resgate chegasse, os gestores precisariam ir ao mercado e tentar vender o máximo de ativos possível, seja qual fosse o preço de mercado. A cada rodada que isso acontecesse, ele derrubaria os preços das ações - o que levaria a uma derrocada das cotas.

Com as cotas em queda, outros cotistas poderiam ser incitados a querer pedir resgate também.

Logo, teríamos o seguinte ciclo:  resgate, vendas forçadas de ações, redução do valor da cota, mais resgate...

Percebeu o problema? Pois é...

Então, o prazo de resgate não é para punir você. Ele foi feito para evitar esse problema e não prejudicar os cotistas que decidiram permanecer no fundo.

O que é D+0, D+1, D+2, D+30?

O prazo de resgate é o tempo que leva entre o pedido de resgate e a cotização do fundo, ou seja, quando você saberá por qual valor serão convertidas suas cotas. A partir daí, são geralmente contados mais 1 a 2 dias úteis para que o recurso seja depositado na sua conta.

Sendo assim, a data está ligada à liquidez do fundo.

O D+ indica que, a partir do dia de pedido de resgate, serão contados os dias corridos.

Exemplo: você pede prazo de resgate de um fundo D+90. A partir daí:

1. O investidor saberá por qual valor de cota serão convertidas suas cotas em dinheiro, em 90 dias corridos.
   
2. Após 90 dias, são contados mais 1 a 2 dias úteis para receber o dinheiro na conta (liquidação financeira).

A exceção a tudo isso são os fundos D+0, característicos dos Fundos Tesouro Selic Simples, nos quais você tem liquidez no dia.

O que define um prazo de resgate maior ou menor?

Dentro de uma estratégia desenhada pelo gestor e de como ele trabalha, será definido o prazo de resgate.

Se o gestor trabalha com ativos mais líquidos, ou seja, com menores volumes de negociação nos mercados, a tendência é que esse fundo tenha prazo de resgate maior.

Em bom português, tudo depende do que ele gosta de comprar e vender. Se o gestor gosta de investir em Small Caps, a liquidez acaba sendo muito menor do que as Large Caps da Bolsa - basta comparar D1000 (DVMF3) que negocia 200 mil reais/dia e Petrobras (PETR4) que já está na casa do bilhão.

Na indústria de crédito privado, por exemplo, é comum encontrar fundos com prazos de resgate D+60, D+90, uma vez que utilizam estruturas também do mercado privado (como FIDCs) e a liquidez desses ativos é suuuper restrita.

“ — Nossa, Luiz, o resgate com 90 dias ou anos é muito longo.”

Sim, é mesmo! O curioso da situação é que pode ser ainda pior. Em fundos de private Equity, muitas vezes o resgate ocorre somente no período de desinvestimento do fundo (5 anos à frente).

Tem para todos os gostos.

Lembre-se da regrinha: quanto mais ilíquidos os investimentos do fundo, maior é o prazo de resgate.

Qual é a melhor hora para sair de um fundo de investimento?

Desculpa, mas não pude deixar de trazer essa resposta para vocês. Luiz, responde aí: qual a melhor hora para sair de um fundo?

Essa pergunta é boa, mas ao mesmo tempo bastante complexa, talvez merecesse um outro texto somente para discutir isso (mande um e-mail pra gente pedindo que volto aqui para falar disso).

Mas, para não deixar completamente sem resposta, é preciso entender que houve alguma mudança de fundamento no caso. Ou seja, algo precisa ter se alterado no meio do caminho (troca de equipe, quebra no processo de investimento, gestão de risco etc.).

Se você se pautar somente pela performance, as chances de fazer besteira são grandes. Nem sempre um fundo com desempenho ruim significa que você deve zerar a posição. Basta lembrar que o melhor gestor de multimercado, Luis Stuhlberger, passou uns 3 anos abaixo do CDI.

O Luiz Felippo, como outros analistas da casa, possui um relacionamento próximo com os grandes gestores no Brasil e sempre informa aos assinantes quais são os melhores fundos, bem como o melhor momento para sair ou reduzir posição. Você pode conhecer mais sobre esse trabalho acessando aqui.